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“(…) atropelou ‘a senhora’ e fugiu do local antes da Polícia Militar chegar”, diz o texto. Nessa redação, usa-se ‘antes da’ ou ‘antes de a’ PM chegar?

Os níveis popular e culto, esses dois tipos de linguagem nem sempre se distinguem, momento em que o sujeito da segunda oração está precedido da preposição ‘de’. Pelo fato de a frase conter esse conectivo de ligação, não deveria haver a contração da preposição ‘de’ com o artigo feminino singular ‘a’, como ficou acima, formando ‘da’. É preciso separá-los: antes de a Polícia Militar chegar…

Assim, na linguagem culta, mas a popular não se ‘preocupa’, e a usa à vontade, em larga escala, noite e dia, dia e noite.

Usadas, aceitas, entendidas (cumpridoras de seu objetivo, que é realizar a comunicação), nem sempre se percebem como diferentes. O modelo popular se sobressai ao culto, e aparece mesmo na linguagem culta escrita, em que bons redatores deixam passar esse lapso ou não o levam em conta. Tanto faz, como fez.

Mostremos as devidas alternativas:

O motorista, supostamente embriagado, atropelou a senhora e fugiu do local antes da Polícia Militar chegar (linguagem jornalística, com veio de nível popular).

O motorista, supostamente embriagado, atropelou a senhora e fugiu do local antes de a Polícia Militar chegar (linguagem culta, que pode ser usada no dia a dia ou no próprio texto jornalístico).

A diferença fica entre aceitar esse tipo de redação ou diferenciá-lo. O modelo considerado culto aparece em segundo plano, com uma percentagem bem inferior à metade do nível popular, mas fácil de se dizer ou descontraído, sem a exigência da norma gramatical. Esse uso parece público e notório.

A regra gramatical esclarece que a preposição ‘de’, precedendo ao sujeito, no caso de o verbo principal de uma oração estar no infinitivo, deve ser separada do artigo definido ou indefinido e de pronomes pessoais e demonstrativos (de o, de a, de ele, de ela, de este, de esta, de isto, de aquele, de aquela, de aquilo). No singular e plural.

As frases com esses pronomes, precedidos da preposição ‘de’, são menos comuns, mas podem aparecer.

Modelo de frase-padrão para esse caso: Está na hora de a onça beber água (nível culto: de+a, separados).

Mas o nível popular, sem qualquer constrangimento ou preocupação, tasca lá: Está na hora da onça beber água (em que preposição e artigo formam a contração da).

O enunciado ‘No caso de o professor não vir, e só ele daria a palestra sobre pássaros, dispense os alunos’ pode servir de modelo para frases similares com esses pronomes pessoais ou demonstrativos, basta que se façam as adaptações:

No caso de ele não vir, (…), dispense os alunos. No feminino, ‘No caso de ela não vir, (…), dispense os alunos.

No caso de esse professor não vir, (…), dispense os alunos. No caso de aquela aluna voltar a fazer bagunça, chame a direção da escola.

No caso de aquele assunto não vingar, arranjaremos outra opção.

No caso de ‘aquilo’ fracassar, que devemos manter segredo, faremos novo contato.

E lá se vão esses e aqueles exemplos, que podemos ver no dia a dia, com os quais você, se necessário, deve fazer a devida comparação, podendo criar suas frases, após entender os detalhes.

Outras frases, que podem auxiliar a compreender essas redações, escritas de dois modos: o popular e o culto, respectivamente.

Não há definição sobre o motivo do cachorro vinagre ter esse nome.

Não há definição sobre o motivo de o cachorro vinagre ter esse nome.

‘Definição’, nessa redação, teria a semântica de ‘explicação, justificativa’. Cachorro vinagre é uma espécie de canídeo natural do Brasil, e o motivo de seu nome seria em virtude de sua cor: ostenta um vinagre ‘róseo’ ou, ligeiramente, avermelhado, parecido com a cor do pelo do cavalo alazão. Pela norma da gramática, o fato de haver dois substantivos juntos, em que o segundo caracteriza o primeiro, como caneta-tinteiro, laranja-lima, navio-escola, banana-maçã, do mesmo modo deveria ser grafado ‘cachorro-vinagre’, substantivo composto por justaposição: os cachorros-vinagre, os cachorros-vinagres (com o uso de hífen entre os dois termos). Seu nome popular, e não o científico, se dá em virtude da cor de seu pelo. O animalzinho é bonito, charmoso na sua aparência e parece robusto.

No caso dele não aceitar a proposta, venha embora sem nada dizer.

No caso de ele não aceitar a proposta, venha embora sem nada dizer.

Lembremos que o cuidado com o uso de conjunção subordinativa adverbial condicional é fundamental para se evitar redundância ou pleonasmo vicioso.

Seria comum encontramos Se caso ele for, avise-me, para eu tomar algumas providências.

O uso de ‘se caso’, simultaneamente (na mesma frase), não é conveniente.

Os dois termos devem ser usados separadamente, em frases distintas. Se ele for, avise-me… Caso ele vá, avise-me…

Fechemos esse imbróglio com mais dois exemplos: No momento dele entrar na sala, houve verdadeira ovação (uso popular). No momento de ele entrar na sala, houve verdadeira ovação (uso culto).

Na hora das pessoas chegarem, os convidados se levantaram (popular). Na hora de as pessoas chegarem, os convidados se levantaram (culto).

E a palavra cuscuz, assim se escreve em Português brasileiro, não cuscus, cuzcuz nem cuzcus, esta última grafia pode ser encontrada em comercial. Essa palavra, de origem árabe, com base na grafia kuskus, muito curiosa, é definida como ‘prato feito com farinha de milho, camarões refogados, ovos cozidos, palmito, sardinhas, ervilhas etc., bem temperados e cozidos ao vapor’. Sabemos que o cuscuz ‘brasileiro’, em especial o nordestino, varia, e muito, desse perfil, com diversos sabores, em que pode entrar carne-seca de boi ou bode, e certas variedades regionais são bem distintas. Outro item que chama a atenção é que a palavra tem a mesma forma para o singular e o plural: o cuscuz, os cuscuz; que cuscuzes seria um plural inusitado.

Louvores aos meninos e meninas que cantam num programa infantil como concorrentes a um prêmio; com todo o respeito a seus ilustres julgadores, cantores e cantoras, essas lindas crianças na performance, voz e vestimenta bela, são tão boas quanto eles, que julgam (salvo melhor opinião).

Um abraço.

 

 

João Carlos de Oliveira

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