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O uso do imperativo, na maioria, o afirmativo, não segue a norma gramatical da uniformidade de tratamento.

Há a mistura constante, clara e evidente, das pessoas tu e você, cujas flexões verbais são diferentes.

Para usarmos a forma verbal do imperativo na pessoa você, buscamos a mesma usada para ‘ele’ ou ‘ela’ no presente do subjuntivo.

Quando a mãe diz “Venha cá, meu filho”, ela usa o tratamento você. A flexão verbal ‘venha’ segue o critério da conjugação do verbo vir no presente do subjuntivo: que eu venha, que tu venhas, que ele (ela) venha (que você venha), que nós venhamos, que vós venhais, que eles (elas, vocês) venham.

Para se usar a pessoa tu, o verbo (vir) é flexionado no presente do indicativo, e eliminamos o S, desinência verbal que caracteriza essa pessoa em Português.

Eu venho, tu vens, ele vem, nós vimos, vós vindes, eles vêm.

Da flexão ‘tu vens’, cortada a desinência pessoal S, fica ‘ven’, que passa a ser vem. Vem (tu). Vem cá, meu filho. Nesse caso, a mãe, mesmo de forma inconsciente, está usando o tratamento tu, o que não importa para ela se flexionou o verbo para uma pessoa ou outra. Ambas as formas são corretas e usadas, no cotidiano. Importa que essas pessoas não fiquem misturadas na mesma frase quando há dois ou mais verbos.

O mesmo critério é usado para a pessoa vós. Cortado o S de vindes, temos vinde. Vinde a mim os pequeninos, a frase bíblica, usada nos compêndios de cunho religioso e nas parábolas. Portanto, vinde é do tratamento vós, o que está explícito na Gramática  Normativa.

Consulte o verbo vir no imperativo afirmativo e confirme estas flexões: Vem (tu), venha (você), venhamos (nós), vinde (vós), venham (vocês).

Haverá problema de linguagem se o usuário preferir Venha cá ou vem cá?

Nenhum, pois a escolha é livre, pelo estilo de cada um, desde que não haja mistura.

Mas no dia a dia, diante de tanta frase apelativa em mensagens, de jornais, de sites, de outros recursos da comunicação escrita, a mistura de tratamento é notória. Diríamos que a uniformidade de tratamento, que não vem sendo seguida, é necessária. Indispensável, assim como o redator da linguagem culta não vai escrever ‘Nós vai, tu vem, você vens’.

Cada um sabe a flexão correta, e se não devemos usar a que não respeita a regra, salvo o momento da licença poética, da adequação da linguagem, não se deve também misturar as pessoas, em especial, tu e você, o que acontece, ‘pesadamente’, em textos cotidianos.

Se alguém defende que esse comportamento é direito de quem escreve, por outro lado, poderíamos dizer que não se precisaria seguir a norma gramatical, o que seria um desastre em se tratando do uso do idioma.

Se podemos mudar a flexão de uma forma verbal, trocando uma por outra, vamos poder alterar a grafia de palavras, vamos poder modificar a flexão de substantivos, a flexão de adjetivos, a conjugação de formas verbais em outras pessoas?

Imagine alguém escrever excessão, no lugar de exceção; geito, no lugar de jeito? Imagine o plural ‘fogãos’ no lugar de ‘fogões’, e ‘sutiles’ ou ‘suties’, no lugar de ‘sutis’? Imagine ‘sube’ no lugar de ‘soube’? “Cumpade, eu sube que vosmecê foi à Brasília e cunversô com o sinhô Prisidente sobre a seca na Bahia. Foi verdade?”, teria falado seu Antero ao compadre Cícero. A frase seria típica de alguém usando o regionalismo, o que respeitamos e damos como ‘certo’, mas não seria aceitável na linguagem culta escrita, mesmo que o douto conteste essa análise.

Voltemos aos enunciados do título acima.

O primeiro é o mais simples, correto, seguindo a norma gramatical para o tratamento você.

Clique (derivado de ‘que você, que ele clique’, do presente do subjuntivo). O imperativo é tempo derivado, isto é, vindo de outras formas verbais já existentes. Temos os tempos primitivos, as próprias flexões do verbo, e os derivados, vindos de formas preexistentes.

Faça (vindo de ‘que você faça’).

Para ficar bem claro esse critério da uniformidade de tratamento, foi usado o pronome possessivo seu, próprio das pessoas ele, ela, você. Se usamos a pessoa tu, o pronome possessivo é teu.

Se alguém escrever “Venha fazer o teu cadastro” ou “Vem fazer o seu cadastro”, as frases atingem o objetivo da comunicação e da comunicabilidade, mas gramaticalmente estão incorretas. Apenas, não sabemos se essa prática se dá por vontade da própria rebeldia ou por desconhecimento da regra.

Venha fazer o seu cadastro (pessoa você). Vem fazer o teu cadastro (pessoa tu).

Se alguém quer ser ‘diferente’ e escreve ‘Se empenhe no seu trabalho’ (a nossa Gramática Normativa diz que não devemos começar a frase com o pronome pessoal oblíquo, o que o Espanhol usa com grandeza), por que não usaria ‘Empenhe-se no seu trabalho’ (que os resultados serão profícuos)?

Justo que não condenamos ‘Me dê um cafezinho, por favor’, por ser frase espontânea, comunicativa, e nesse momento fica melhor que ‘Dê-me um cafezinho, por favor’ (também correta, mas pode parecer uma ‘ordem’, mesmo com a ressalva ‘por favor’). Esses aspectos é que a linguagem de textos deve levar em consideração, o que nem sempre se observa.

A linguagem não é nem pode ser estática, mas estão ‘criando situações pessoais provocantes’, sem serem licenças poéticas ou liberdades textuais, mas um caminho ‘diferentão’, como ousam escrever, o que caracteriza um critério duvidoso.

O segundo enunciado está na pessoa tu, que seria pouco usado, mesmo correto. Eu clico, tu clicas. Corte o S, e tenha clica (tu). Eu faço, tu fazes. Corte o S, e tenha faze (tu). Para combinar com a norma gramatical, por isso, o uso do possessivo teu. Clica e faze teu cadastro (sem o uso do artigo -o, opcional antes do possessivo teu).

O terceiro enunciado é ‘torto’, enviesado, uma vez que não segue nem a pessoa você nem a pessoa tu. Tudo misturado. Isso foi de propósito, para provocar, para chamar a atenção da regra, para dizer que não segue a tradição, ou por falta de conhecimento? Certo que não é uma frase tão convincente. O ruim é que alteram frases já tradicionais ou de autores famosos, ou até frases de cunho religioso.

Esse enunciado já foi corrigido (para o primeiro e o segundo).

Ouve-se muito isto: “Vai conferindo aí”. Em se tratando da pessoa você, que o falante usa a seguir em outras frases, deve-se dizer “Vá conferindo aí”. A primeira é bem-vinda se o usuário disser “Vai conferindo aí a tua aposta”.

Para fechar, relembre o dito famoso “Diga-me com quem andas e te direi quem és”, muito subjetivo, mas usado. Posso andar com um famoso, e eu ser um plebeu. Posso andar com um fumante, e eu ser um abstêmio do uso de cigarro. Meu pai fumava, cuja companhia me era normal e salutar, mas nunca fumei.

Essa escrita não segue a norma gramatical.

Vamos corrigi-la para três versões (tu, você e vós):

Dize-me com quem andas, que te direi quem és. Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és (tratamento tu).

Diga-me com quem anda, que lhe direi quem é. Diga-me com quem anda e dir-lhe-ei quem é (tratamento você).

Dizei-me com quem andais, que vos direi quem sois. Dizei-me com quem andais e dir-vos-ei quem sois (tratamento vós).

Escolha a sua opção e use-a com segurança.

Abraços.

 

 

João Carlos de Oliveira

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