0

O diabetes ou a diabetes? E a grafia: diabetes ou diabete?

São muitas as palavras que nos trazem dúvida quanto ao gênero: o alface, a alface?; o couve, a couve?; o omoplata, a omoplata? E uma muito discutida: masculina, o diabetes, ou feminina, a diabetes?

Seguindo a Gramática, três têm dúvida dissipada: a alface, a couve, a omoplata (a escápula).

Qual a grafia mais apropriada ou usada: diabetes (com o esse final) ou diabete (sem esse)?

O cidadão não-voltado a essas nuanças linguísticas, normalmente, pouco se preocupa com detalhes se um vocábulo é masculino ou feminino; para ele, vale o que todos falam e usam, e estando ‘atualizado’, seguindo o modo de pessoas cultas falarem, isso basta. Se ouviu um médico falar ‘a diabetes’, é assim que vai usar daqui para a frente; mas outro pode ter ouvido ‘o diabetes’; e agora, doutor?

O professor Luiz Antônio Sacconi, em sua obra Nossa Gramática, Editora Moderna, edição de 1979, pág. 30, diz “Existem certos substantivos que oferecem dúvida quanto ao gênero, por isso merecem atenção especial”.

Relaciona (sem usar artigo), entre outros: masculinos: o ágape, o apêndice, o axioma, o champanha, o clã, o cônjuge, o diabetes (grifo nosso), o diadema, o diagrama, o dó, o herpes, o matiz, o preá, o sabiá, o sósia, o tapa, o telefonema, o trema; femininos: a acne, a aguardente, a alcione (ave fabulosa que fazia o ninho sobre o mar calmo e era considerada portadora de bons presságios), a aguardente, a alface, a aluvião, a apendicite, a derme, a entorse, a ferrugem, a bacanal (festim dissoluto, orgia), a bólide, a cal, a clarineta, a cólera (doença), a juruti (ave; também chamada a juriti, a jeruti), a matinê (que saudade: não existe mais; no domingo, toda a cambada do bairro, alegre e sorridente, ia a uma sessão de cinema por volta das 10 horas), a omoplata, a personagem, a sentinela, a usucapião, a xérox. O professor não consta o substantivo couve, dado como feminino por outras obras.

No dia a dia, parece que incautos é que criam ‘o gênero’ e passam a dizer (sem medo de errar): o xérox, o foto (a fotografia: “Peguei um foto 3/4”; o foto é o estúdio fotográfico), entre outros modelitos, aumentando a dúvida do usuário. “Dei uma tapa na cara dele.”

Observa-se que palestrantes dizem ‘o diabetes’, masculinizando-o, como se fosse um grande mal; já médicos, na sua maioria, como a doença hoje é quase uma pandemia, chamam-na ‘a diabetes’, doença grave cuja característica é a de uma pessoa ser hiperglicêmica, provocando várias consequências: cegueira, atrofia dos membros inferiores (com amputação), AVC (até a morte). A diabete, grafia aportuguesada mais condizente com nossa fala, existe sob taxionomia diversa: são vários tipos.

O dicionário, em primeira mão, grafa diabetes, masculino e feminino (substantivo com dois gêneros) e diabete, apenas feminino (de pronúncia mais adocicada, próxima de nosso falar). Vem do Grego ‘diabétes’, com o significado de sifão, qualquer afecção que associa micção (ato de urinar) abundante com grande vontade de tomar água (sede excessiva). Há outros detalhes quanto ao aspecto semântico dessa doença. Sifão é termo conhecido de todos nós para indicar uma espécie de tubo recurvado em forma de U invertido, para escoamento de líquido de um nível para outro. Comumente, não entenderíamos como seria a doença ser um sifão; buscando uma análise simplória, sem ter os dados científicos de um especialista, poderíamos entender como ‘o meio’ por onde escorre líquido, embora não seja malcheiroso, próprio de um ralo ou pia.

Detalhe que não nos importa no momento. O que fica claro é que a doença faz evacuar grande quantidade de líquido, que pode ser variado. Não podemos ser do contra: diabetes, a diabetes, a diabete. Tantas opções para um mesmo termo. Preferível, como assinalado, a última grafia em qualquer nível de linguagem. Qual sua opinião?

Quanto ao gênero, chama-nos a atenção a palavra zica (grafia preferível a zika), que aparece ora feminina (a zica), ora masculina (o zica). Observa-se que o zica seria uma referência ao vírus (o vírus da zica); a zica, à doença (a doença zica). É o que se pode pensar de maneira imediata, representando a fala cotidiana.

Não há necessidade de outros detalhes. Certo é que temos variedades de gênero: o sabiá, a sabiá. Preferíveis: o sabiá, a couve, a alface.

Pausa: Artigo diz “Há passos de tartaruga” ao referir-se a uma obra de recapeamento de estrada estadual, que não ‘anda’. Para se dizer que o andamento da obra é ultralento, deve-se dizer ‘A obra anda a passos de tartaruga’, o modo como o fazer dessa obra é executado. ‘Há passos de tartaruga’, para ser expressão correta, indicaria que ‘existem’ marcas desse animal em algum lugar, como as pegadas de tartaruga na areia da costa brasileira para desova. Entenda-se, de imediato, o Projeto Tamar, que visa à proteção dos filhotes desses quelônios em risco de extinção.

Vamos pensar? O tédio se dissipa com trabalho; o estresse, com a poesia afetiva da Natureza.

Se, hoje, não fui supimpa, leia outros artigos neste sítio para compensar o maldito com o bendito.

Obrigado. Seu professor João Carlos de Oliveira.

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *