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Inmóvel ou imóvel? Inreal ou irreal? Por quê?

Seria uma explicação desnecessária, mas muita gente tem dúvida quanto à grafia correta. Muito comum alguém dizer que possui um imóvel (terreno, casa, propriedade etc.). Também, seria natural o uso de ‘móvel’ como peça do mobiliário (sofá, poltrona etc.). No entanto, quando se trata de ‘coisa móvel’, e se esse objeto não o é, como ficaria a grafia? Talvez, seja essa a necessidade deste artigo em comentar as grafias imóvel, móvel, mobilidade, imobilidade etc., abrangendo vocábulos derivados do étimo latino mobilis (tudo que pode mover-se). O que é móbil.

No momento em que se deseja formar o antônimo de móvel, pelo processo da derivação prefixal, ou prefixação, o prefixo in (de caráter negativo) tem grande relevância no teor ortográfico.

In antes de M e N; antes de P e R. Por extensão, antes de palavras começadas por B e H. E se for antes de S?

Em se tratando de processo didático-pedagógico, é preciso orientar os pimpolhos: não se escreve ‘inmóvel’ ou  ‘inreal’, como pode acontecer em muitas redações escolares pelo País afora. Nesse momento, por questão fonológica, o ene de IN antes de M desaparece: imóvel, e o erre de real dobra: irreal. Algumas grafias merecem destaque: imobilidade, imobilizar; irrealidade, irrealizar, irrealizado, com o lembrete de outros termos que começam por M ou R no processo de formação de palavras prefixais: imediato, imemorável; irrestrito, irresoluto, irreparável, irrespirável, irreversível, irrevogável, irreverente, irresponsável, irrepreensível etc.

Se for feito teste ortográfico com termos similares, num conjunto de 10 pessoas, no mínimo, haverá 30 por cento de erros. Os professores de Língua Portuguesa sabem do dilema que alunos vivem em momentos assim.

In antes de B e P torna-se ‘im’ (regra que é de domínio público): imbele (que não é belicoso), imberbe; imprudente, impudico, imponderável, impessoal, impertinente, impermeável, impassível, impossível, imperfeito etc.

In antes de M e N: o ene desaparece (exemplo de in+móvel, imóvel): in+nato, inato; i+núbil (que pode se casar), inúbil; in+negociável, inegociável; in+numerável, inumerável; in+moral, imoral; in+módico, imódico; in+material, imaterial; in+morredouro, imorredouro.

Não seria grafia fácil para alguns ou não seria comum, talvez, que todos tivessem esse domínio. Imoderado, imobilizado, imodesto etc. Para outros, a grafia ‘ineficiente’, por exemplo, não chamaria a atenção por se tratar de termo bastante usado. Ora, se temos eficiente, o seu oposto através da prefixação, é ineficiente, assim como inescrupuloso, inexato, inesquecível, mas, como fica claro, o prefixo in, nessa relaçãonão sofreu alteração, como em inestimável (in+estimável), mas em inegociável sim (in+negociável), situações nem sempre perceptíveis.

A lista, então, vai crescendo. Se aumenta num piscar de olhos, há, pois, a evidente necessidade de se dizer que in antes de B se torna im: in+barba, imberbe. E antes de H, se for juntado a ‘hábil’? H, por ser consoante insonora, desaparece: inábil, inabilitação, inabilidade. Nem todos conhecem essa mudança. Sabem escrever inabitado, mas não ‘dissecam’, se assim podemos usar, figuradamente, que esse processo se deu desta forma: in+habitado, forma inabitado, daí inabitável, inábil. Mas em inabalável, inacabado, inacessível, inadmissível não aconteceu o mesmo processo: abalável recebe o prefixo in e se torna inabalável; in se junta a acabado e se torna inacabado; na sequência, in+acessível, inacessível, por isso, inacessibilidade; admissível e in formam inadmissível.

Por essa razão, quando se percebe que alguém usa ‘desvolução’ para dizer que o comportamento humano está regredindo, não conhece esse processo ou se esquece de que o prefixo ‘des’, embora com a mesma semântica, não se aplica a ‘evoluir, evolução’ etc. O seu queridinho, que é bem aceito, é in: involuir, involuído, involução. Um povo involuído é algo ruim, e seria sintomático para muitos que querem a mudança de comportamento do ser humano em sentido positivo. Haja vista quem vive “Deitado, eternamente, em berço esplêndido” (excerto do nosso querido Hino Nacional), verso que não nos mobiliza à busca de  mudanças naquilo que nos aflige. As duas vírgulas foram usadas em virtude de ‘eternamente’, gramaticalmente, advérbio de tempo, e, sintaticamente, adjunto adverbial de tempo, estar intercalado, que poderiam ter sido usadas pelo autor da letra, Joaquim Osório Duque Estrada, que fez alterações no texto antigo, como narra a História.

E o in antes de palavras que começam por S como fica? S não é dobrado: in+surgir. insurgir; in+suportável, insuportável; in+sonoro, insonoro; in+solúvel, insolúvel. Seria de bom alvitre o lembrete de que surgem dúvidas em grafias como inssosso ou insosso; inssuportável. Não cabe em Língua Portuguesa grafia como inssustentável; por outro lado, grafam erroneamente aerosol, quando deve ser aerossol.

O comentário poderá ajudar a nós outros que tenhamos alguma dúvida.

Pausa: 1. Uma senhora disse que estaria ‘meia adoentada’. Um pouco doente, portanto, ‘meio adoentada’, assim como meio triste, meio ferida, meio calada. 2. Um repórter, referindo-se ao futebol de juniores, mostrando garotos que buscam um lugar ao Sol no futebol do futuro, disse que ‘tantos são os Neymar, que não se tem a conta”. Mesmo sendo nome próprio, tomado em sentido geral, por termianr em R, o plural segue o mesmo critério de palavras como repórter, repórteres, logo Neymar, Neymares; assim como há os Pedros, os Joões, os Josés, os Antônios; os Alencares. 3. Pensamento do grande filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712, 1778): “O homem que mais vive não é o que conta maior número de anos, mas aquele que mais sabe sentir a vida”. Excelente forma de se ver o valor dos anos bem vividos, com a clara distinção de que alguém famoso, embora tenha vivido intensamente seus dias, talvez não tenha sentido todo o valor da vida. Há quem alegue que a intensidade é mais grandiosa que a vida pachorrenta, mas um homem do interior, no seu caminhar lento, na sua experiência de cem anos, de seca ou chuva, de fome ou fartura, tendo criado seus rebentos com denodo e honestidade, vivendo como Deus é servido, deve ter vivido todo o princípio desse filósofo que deixou para o mundo a visão de Liberdade, que mais tarde veio a lume na Revolução Francesa.

Obrigado por me acompanhar.

 

João Carlos de Oliveira

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