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“Se caso você ‘vim’, me avise”. ‘Se caso você vier’; ‘se vier’; ‘caso venha’, avise-me.’

A linguagem popular, em muitos momentos, tem usado essa junção de conectivos subordinativos adverbiais condicionais como se formassem uma locução conjuntiva similar a ‘desde que, já que’. ‘Se caso’, com valor semântico de conjunção subordinativa adverbial condicional, não existe.

Para esse aspecto, ou se usa ‘se’ ou se usa ‘caso’, em momentos distintos (separadas).

A primeira expressão do título teria a mesma redação nas linguagens culta e popular: ‘Se você vier, avise-me. Caso você venha, avise-me’.

Na traslação de se para caso, o tempo verbal muda, como se vê. Não parece óbvio que se mantenha o mesmo futuro do subjuntivo (vier) nas duas opções: caso você venha estaria mais compatível gramaticalmente que caso você vier.

Quanto à escolha de um ou de outro conectivo, tem-se uma questão de estilo ou hábito redacional, e quanto ao tempo verbal (na frase, alterado para o presente do subjuntivo, em que está claro o sentido de hipótese), tem-se uma questão redacional, em Português adequado ou enxuto, conforme a norma gramatical.

No conjunto do título, a primeira expressão, com redação inadequada, é a embasada neste comentário; a segunda sofreu a correção da forma verbal (vier); a terceira e a quarta, formas corretas para se usar ‘se’ e ‘caso’, separadamente.

Além de ficar estranha a redação ‘se caso’ ao mesmo tempo (na mesma expressão), há redundância semântica, exemplo que caracteriza pleonasmo vicioso. O que mais se poderia dizer sobre isso?

De bom alvitre, a repetição: se você vier; caso você venha. Não se agrupem os dois elementos: ‘se caso’. Em outro redigir, temos: se você for, se você puder; caso você vá, caso você possa.

Muito ruim, por outro lado, quando o usuário se expressa tascando “Se caso você ir” ou “Se caso você vim“. Os tímpanos de quem está habituado a um Português razoável, suave, falado ou escrito, ficam feridos, com marca de picada do mosquito da chicungunha pousado na testa da vítima.

De quem é a culpa? A culpa recai na leitura rala, na falta de pesquisa, na ausente leitura assídua de bons livros, na costumeira reação de ‘Eu já vi isso’, quando o viu superficialmente. Essa ausência de leitura com diretriz semântica é que tem levado beltrano, fulano e sicrano ao erro crasso, que nos empobrece quanto à consideração ao uso do idioma no dia a dia, representante de nosso acervo cultural, de nosso cabedal linguístico.

São aspectos negativos ‘sempre dizer que o idioma é difícil, sem ler e sem seguir normas, e nunca compulsar uma boa obra que trate do assunto’.

A prática nos leva a uma redação razoável, e o lapso se tornaria perceptível aos bons ouvidos. Ficaria fácil percebê-lo.

Muito bom ter dito um mestre: “Não se pode cobrar do aluno o uso da linguagem culta assim como se cobraria do motorista o conhecimento de um mecânico. Deve-se ensinar a ele o básico do idioma assim como um bom motorista sabe dirigir, embora não seja o mecânico que conserta ou detecta os problemas que o motor de seu carro apresenta”.

Nesse aspecto. Pelo menos, essa é uma interpretação lógica.

Se caso‘ permanece no olhar do usuário, poderá haver a possibilidade de ele estar confundindo com “Se o ‘causo’ for verdadeiro, a vaca vai pro brejo, ‘agurinha mermo’?”

Seria isso?

O bom uso implica: Caso você venha amanhã cedo, esperá-lo-ei na rodoviária. Se você vier amanhã cedo, esperá-lo-ei…

Ou um ou outro, como quis (Não um quiz!) nossa lírica Cecília Meireles: “Ou se tem chuva e não se tem sol,/ ou se tem sol e não se tem chuva./ Ou se calça a luva e não se põe o anel,/ Ou se põe o anel e não se calça a luva./ (…) É uma grande pena que não se possa/ Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!/ (…) Não sei se brinco, não sei se estudo,/ Se saio correndo ou fico tranquilo”. In Ou isto ou aquilo.

O faz-de-conta, ou isto ou aquilo, quanto ao uso do idioma, é que tem deixado alguns na extrema e eterna dúvida. Sabe redigir, faça-o; não sabe, leia e pesquise para aprender. Não sabe, não lê nem pesquisa, peça a alguém que o faça para você. Seria lícito não saber dirigir ou consertar o motor do carro, e sair por aí praticando o que não sabe? O que dizer de um cirurgião que iria fazer ‘isto’ e faz ‘aquilo’?

Voltando à primeira frase do título, que elemento é o termo principal e qual é o intruso, se ambos estão juntos? Considere como intruso o segundo elemento (caso), porque o primeiro é que é o destaque, por isso, encabeça a frase. Ele é o principal.

Caso, usado excepcionalmente como conectivo subordinativo adverbial condicional, tem o mesmo aspecto semântico de ‘se’. O dicionário Michaelis 2000 só diz isto: caso que, no caso que, se.

‘Se’, conjunção subordinativa adverbial condicional, vinda do Latim si, tem o valor de caso e exprime condição, hipótese. Se vos esforçardes, aprendereis (caso vos esforceis).

O tempo verbal, na troca de ‘se’ por ‘caso’, muda. NR.

Se: conjunção integrante (Latim si) vem após um verbo; exprime dúvida. Veja se o professor já chegou.

Essa integrante vem detalhada em muitas gramáticas, introdutora que é de oração subordinada substantiva: Não sei se vou trabalhar hoje (or. subord. substantiva objetiva direta). NR.

Fiquemos por aqui com o comentário e exemplos.

Se puder, venha. Caso possa, venha.

E o ofendido ao ofensor: “O mundo não acaba aqui nem hoje. Deixe estar, jacaré; um dia, a lagoa pode secar”.

Jacaré sem lagoa tem morte certa.

 

João Carlos de Oliveira

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