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Linguagem do futebol: ‘oitavas de final’ ou ‘oitavas de finais’? ‘Quartas de final’ ou ‘quartas de finais’?

Se redatores há que não têm dúvida, ainda assim, aparecem, de quando em vez, ‘oitavas de finais’ e ‘quartas de finais’.

Mesmo com o embaraço linguístico, pensariam que ambas as formas teriam o mesmo sentido?

As oitavas de final, a grosso modo, sem detalhes das regras futebolísticas, indicam o conjunto de oito partidas em que se classificam os quatro melhores times. Após esse octogonal, as quartas de final, com quatro disputas, escolhem os dois melhores, que seguem no certame, e vêm a semifinal e a final. Não mereceriam destacar-se o terceiro e quarto lugares?

Aliás, pelo que se vê quando um time perde, brasileiros há que não valorizam a vice colocação. Ficariam chateados com o segundo lugar. Interessante observar que em torneios, como nas Olimpíadas, valorizam-se com destaque os três últimos colocados, com as respectivas medalhas: bronze, prata e ouro. Por que o futebol, em torneios nacionais e estaduais, não faz a mesma coisa? Falta consenso?

O octogonal, como diz o nome técnico (‘pois, pois!’), vem a ser a rodada de oito partidas, para que sejam escolhidos os quatro colocados concorrentes ao título de campeão. Salvo melhor juízo.

Vêm as partidas das quartas de final. Nesse quadrangular, o conjunto de quatro, tudo se consuma para a semifinal e a final. A finalíssima aguça os dizeres, e a adrenalina sobe. Nesse momento, fica claro que haverá apenas ‘uma final’, razão por que não se pode usar ‘quartas de finais’, redação que circula, mesmo com dúvida. Esse lapso, certamente, com o passar do tempo, será eliminado.

O bom locutor esportivo, com a voz possante ou marcante, entona: as quartas de final!

O Brasil, certamente, tem e teve grandes narradores esportivos, mas um, pelo menos para mim, quando eu escutava a Jovem Pan de São Paulo, com sua voz melodiosa, deixou momentos inesquecíveis: Fiori Gigliotti. De origem italiana, simpático e modesto até no narrar os lances mais curiosos, fazia-o sem arroubos, mas com entonação adequada, verdadeira explosão ‘fonológica’.

“Senhores e senhoras, vai começar o espetáculo”, seria um de seus inúmeros bordões. Muito agradável e supimpa, como diria um baiano arretado.

As oitavas de final e as quartas de final, respectivamente, justificam a boa redação.

O futebol brasileiro, hoje, pelo menos nas séries A e B, com os chamados ‘pontos-corridos’, debilitou o entusiasmo. Decisão é decisão, como diria o teatrólogo, crítico e cômico Nelson Rodrigues. Por que não se revitaliza o critério anterior? Na final, destaca-se um quando a corda bamba se arrebenta. Tristeza de uns, alegria de outros, mas essa a grandeza do esporte.

Ou perde ou ganha. Ou ganha ou perde. Faz parte do show da vida, e o torcedor com o objetivo de ‘gritar, de reverenciar seu ídolo’, cuja torcida deve ser espontânea, sem qualquer grupo chamado ‘torcida organizada’, com privilégios, até poderia receber ‘pecúnia’ do time. Ainda acontece?

Para fechar o artiguelho de hoje (fraquinho, fraquinho!), alguns itens que merecem destaque.

A quarta-feira (singular); as quartas-feiras (plural).

Qual o plural correto: alto-falantes ou altos-falantes? Por quê?

Se fossem, respectivamente, adjetivo (alto) e substantivo (falante), pela regra, o plural seria ‘altos-falantes’, em que ambos os termos flexionam, como altos-fornos, altos-relevos.

Mas seria isso? Pela semântica, ‘alto’ é advérbio, e não flexiona. Nesse caso, o plural é alto-falantes.

Qual soa melhor? Qual seria mais usado?

A resposta não tem muito a ver, mas ‘alto-falantes’, o correto, tem aparecido, entretanto, com uma ‘nesga’ de dúvida de quem o usa. O ruim, é que, em tempos idos?, um jovem enfronhado em sons automotivos disse que seria ‘auto-falantes’, porque se referia a veículos. Uma coisa não justifica a outra.

Não importa em que lugar se use o objeto que transmite o som, mas o nome é alto-falante, definido assim pelo nosso circunspecto ‘professor’, sempre calado, mas ‘falante’: aparelho que converte variações de corrente elétrica em sons audíveis e os irradia no espaço circundante. Para aliviar o erro, existe a variante pouco usada: o altifalante. Plural: os altifalantes.

A propósito, altista e autista.

O primeiro indica a pessoa com voz especial, que tem as características de contralto, como a simpática e competente cantora Mariene de Castro, a baiana que encanta. O dicionário ainda diz que altista é aquele que toca a viola.

O segundo, termo muito usual, indicativo de comportamento mental-psicológico, caracteriza aquele acometido de autismo (estado patológico em que ocorre um distanciamento da realidade devido à recusa de contato com o mundo exterior e à predominância de um mundo interior imaginário), diz uma obra consultada. Assunto profundo, é campo da Ciência Médica, com capacidade para os conceitos e os porquês.

Quanto à grafia, fica compatível dizer que ‘auto’ e ‘alto’, na nossa pronúncia açucarada, geraria inquietação, mas o bom-senso, pelo significado do étimo, estabelece com facilidade a diferenciação, tantos os vocábulos formados a partir dos dois radicais.

Alto-mar, autoestima, os altos e baixos, os Autos (peça teatral ou Processo Jurídico), o autodidata, o altoplano (altiplano), e mais, cuja consulta ao léxico é indispensável.

Creme dental ou pasta de dente? Aprende-se, em Português regional, ‘pasta de dente’, e aí vem o ‘sabido’ e corrige a aprendizagem de pai para filho: creme dental. Tudo dá no mesmo. Escolha sua opção e não tema o penetra: use, com a boca escancarada de ideias claras, pasta de dente. Se quiser, creme dental, sem tergiversação, mas olhe de soslaio para aquele que critica sua opção.

E ainda: dentifrício, que serve para friccionar os dentes. No sertão, a folha do juá de boi, que tem sabor gostoso, serve para isso quando não se tem escova dental nem creme. O nordestino antigo, como eu, já fez uso dessa função.

Frase interessante de uma senhora que foi a uma eletrônica: “Ô moço, meu televisor não ‘fala’! (sic). O senhor pode ir lá em casa ver o que é?”, conclui.

Veio a explicação do técnico sobre o possível problema, e ela ficou de levar o aparelho ‘mudo’. Ela tem razão. Áudio e vídeo são termos, talvez, que lhe estejam distantes. O vídeo existe, mas o áudio ‘o gato comeu’, por isso, a tevê não ‘fala’.

Houve uma metáfora forte, agradável, associada à prosopopeia, em que ambas dão o recado da linguagem figurada. Não condenemos quem ainda usa, por exemplo, ‘o som não fala’.

Outra pessoa, bem simples, segundo as más-línguas, comprou o antigo videocassete para ver filmes preferidos. E ligou o aparelho. Mas, é claro, tinha-se esquecido de comprar o filme e aí foi ao rapaz da loja que lhe vendeu a ‘geringonça’ fazer uma bela reclamação. E a conversa fluiu.

“Mas a senhora colocou o filme que gosta?”

“Como assim? Mas eu não comprei o aparelho?”

“Mas tinha que comprar o filme!”

“O senhor não avisou disso! Oxente! Só para enganar a gente!”

E hoje? O DVD ainda circula livre?

A bomba-relógio e a superbactéria, dois temas, que assustam a humanidade.

Multirresistente, e não multi-resistente.

Uma estrofe de um poema ‘sensorial’ dos que escrevo na vida.

Meu gosto

Gosto do susto que a Natureza me traz./ Uma folha que cai vencida pela gravidade./ Um graveto que circula na sinuosidade/ porque Galileu Galilei relatou o que já existia’.

Sem graça!?

Abraços. O artiguelho melhorou no final?

João Carlos de Oliveira

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