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Ele é ‘de menor’. Nosso filho já é ‘de maior’. ‘Tinha menas’ gente no clube: pérolas que, ainda, circulam por aí

Expressões ‘bárbaras’, porque diferem do nível gramatical padronizado, mas registram o falar consuetudinário, a normalidade e a realidade da linguagem cotidiana de muitos. Bárbaras por não atenderem às regras e ao uso estipulado na Gramática Normativa.

A tradição as consumou; o convívio no seio familiar de ‘pai para filho’ se perpetua.

Por que a escola não consegue corrigir essa falha? Porque nem toda gramática trata do assunto, e o corpo docente, de modo geral, segue o que determinam os compêndios. Salvo melhor juízo, segue estritamente a ‘ordem’ pré-conceituada, mesmo que esse linguajar ocorra em sala de aula.

Seria preciso, por alguns instantes, variar e trilhar a cultura popular para ensinar, para discutir o que o povo vive. O cotidiano de nossas cidades nem sempre é retratado em aula. Não só a linguagem; o trânsito, o acesso público. Verdadeira obstrução à acessibilidade dos transeuntes veículos estacionados em passeios públicos, mesmo que seu dono seja também o proprietário do imóvel ou da empresa. Por isso, acha-se no direito de dar vazão à sua vontade estapafúrdia. E vira as costas.

É obstrução à acessibilidade do passante um grupo de pessoas ocupando a passagem com o papo especial das resenhas ‘tribais’, da redes sociais plenas de atitudes exacerbadas, ato que não dignifica ninguém, mas nos diminui, sem percebermos, sem darmos conta de atitudes ‘discriminatórias’, diante de momentos de insegurança que vive o cotidiano. Também se discrimina com esse comportamento.

Quanto a essa linguagem (de menor, de maior, menas), supõe-se que todo professor já ouviu alguém dizer ‘Ele é de menor’, mas não seria  importante discutir em sala de aula, porque o concurso e o vestibular não pedem assuntos tão banais. Não se trata de o mestre ‘corrigir’ o pimpolho sem mais nem menos, mas de orientá-lo para que diferencie a linguagem culta da popular, uma vez que esse uso ‘enraizado’ poderá, um dia, ser visto como destoante da sua formação superior.

A linguagem, toda ela, é para a vida, a prática, o dia a dia. Embora, também o ensinamento em uma sala não vá corrigir todos os erros, mas se dá atenção ao que se usa de forma displicente, às vezes, tido como correto. Nossa multiplicidade vocabular e linguística pode induzir o incauto a essa prática sem saber diferenciar os níveis da comunicação que nos envolvem.

Seria isso? Como dizer o contrário?

Se a aluna (ela, o feminino) usa na sala ‘Muito obrigado‘, eis um momento para que o professor introduza na sua fala algo que explique sucintamente: ele diz Muito obrigado (grato, agradecido), e ela, Muito obrigada (grata, agradecida).

Bonito assim para que não seja corrigida(o) no amanhã já adulto e profissional de renome. Exemplos clássicos confirmam que ‘doutores’ ainda se confundem com ‘descriminar’ e ‘discriminar’. Quase corriqueiro se ouvir que fulano foi ‘descriminado’ no clube por ser negro, por causa da vestimenta, por causa da aparência etc.

Discrimina-se o outro a partir de olhares capciosos, porque o homem usa chapéu (sinônimo de origem simples?), mas não se sabe o que ‘rola’ em seu conhecimento, em sua sabedoria de convívios numa Nação que valoriza (‘por demais’) o aspecto materialista, sem saber perscrutar a cultura. Não nota essa diferença em roupagem simples, ou o faz somente no clube, na vestimenta luxuosa. O analfabeto pode ter um punhado de Reais a mais, mas comportamentos a menos, como algum abastado o pode ter, e pouco senso do que concerne aos bons exemplos.

Uma senhora na porta de sua casa joga água no passeio mesmo no momento em que pessoas passam; outra, o saco de lixo em direção a um ponto, quase atingindo quem estava a transitar; não o jogou na pessoa, mas a forma como o fez, levado pelo vento, o lixo poderia atingir o transeunte.

Por que isso? A escola não nos ensina bons costumes? Não aprendemos na praticidade? Somente praticamos etiquetas quando estamos nos salões nobres? E a Ética? Por que estudamos Filosofia? Ou o porquê de alguém não tê-la estudado.

Ajamos com naturalidade se virmos alguém, simples, usar ‘de menor’; fiquemos ‘feridos’, porque maltrata o idioma, se for alguém tido como ‘formado’, e muito mais quando fulano estaciona ‘o poder’ obstruindo a passagem de cada um.

A chave do cadeado da bicicleta ou do portão fica guardada no bolso ou na bolsa, mas a CHAVE DO VEÍCULO DE MARCA É CARREGADA NA MÃO EM PLENA LUZ DO DIA, RAZÃO PORQUE MUITAS SÃO ENCONTRADAS NOS BALCÕES DAS LOJAS, ESQUECIDAS POR ESSAS PESSOAS COM DISTINTA PREFERÊNCIA NO ATENDIMENTO.

Uma Nação insegura levará anos para adquirir o comportamento social, POLITIZADAMENTE, correto.

Na sala, a aluna pergunta à mestra o que seria ‘pederastia’.

“Não vou responder porque esse assunto não é de nossa pauta nem a gramática trata disso”.

Assim não, mestra! O pior é que esse ato corta o bom relacionamento do discente com o docente, deixando o aluno com receio (ou pavor) de perguntar, de questionar, de se informar sobre ‘o diferente’.

Com tudo isso, a linguagem é nobre e nos conduz ao convívio com os níveis culturais diversos, ou até revela o meio-social em que se vive.

Ele é menor. Menor de idade. Ele ainda tem a menoridade.

Ele é maior. Maior de idade. Ele já tem a maioridade.

Assim por diante. Menor, conforme o critério legal, varia. Menor de 16 anos. Menor de 18 e maior de 16, que pode votar e exercer outros atos da cidadania. O casamento consentido é autorizado pelos pais ou tutores, de forma explícita.

De bom alvitre, repitamos: pessoa que ainda não atingiu a maioridade: menor. Menor de idade. Aquele que atingiu a maioridade: maior. Maior de idade.

‘Menos’ é palavra invariável. Não possui outra forma, e assim deve ser usada antes de substantivos no masculino singular e plural (menos ódio na convivência; menos homens imprudentes no dia a dia); e no feminino singular e plural (há menos gente na rua; há menos pessoas na praça).

Menas‘ assusta, e por que isso acontece? Por falta de consulta, porque ainda o usuário não parou para pensar nessa forma de uso. Porque, como se deduz, deve ser vício de linguagem e não tenha notado que o use nem o perceba no uso de utras pessoas. “Mas eu sei que não existe ‘menas'”, disse o repreendido.

Por que a usa? O vício se torna difícil de ser corrigido.

Menor é comparativo de pequeno. ‘Mais pequeno’. Nossa gramática condena o uso de ‘Ele é mais pequeno que seu irmão José’, mas podemos dizer ‘Ele é mais pequeno que inteligente’. Outros idiomas têm seu uso, como o Espanhol, que aceita a expressão: ‘Nadia (del grupo Las Fénix) es más pequeña que su hermana Adela’. ‘A moment’: lindas e competentes; Nadia é o cérebro desse grupo musical feminino.

Maior, de forma contrária, é o comparativo (irregular) de grande. ‘Mais grande’. Condenamos (acatando o que diz a norma) ‘Ele é mais grande que seu irmão’, mas podemos dizer ‘Ele é mais grande que sabido’. Parece estranho, mas é correto; apenas, não se trata de expressão usual. Vez por outra, encontramo-la em texto de linguagem cultura ou erudita.

O maior, que está, hoje, com mais de dezoito anos. O menor, que está, hoje, com menos de 18 anos.

Voltando ao uso de ‘menos’, vocábulo vindo do Latim ‘minus’, em menor número, em menor quantidade, afirma a semântica que é comparativo de pouco. E isso deixa alguns a ver navios: se se pode usar ‘pouca gente’, por que não ‘menas gente’? A proibição atordoa o pensamento de muitos, o que causa dúvida, mas, ainda assim, a expressão é usada, ou muito usada.

Mais amor e menos confiança. Mais gente e menos gente. Pouco amor e muita desconfiança.

‘Menos’ é versátil: vale como preposição. Todos foram, menos ele (com exceção dele). Todos estudam, exceto ele.

Podemos usar ‘a menos, de menos, sem mais nem menos’: Vá, meu filho, a menos que não faça bobagem por onde ande.

Falou de menos na reunião.

A menos que você não faça mau uso, tome, agora, um milhão de dólares para seus gastos costumeiros.

Sem mais nem menos, chegou a minha casa esbaforido e reclamando de todos.

Ele só mente, e como mente. ‘Menos, menos’, disse o vizinho, amenizando que seu compadre não é tão mentiroso assim. “Eta! Vida besta, meu Deus!”, de nosso Drummond.

Menos que nunca: absoluta impossibilidade.

“Jamais desejei lá ir, e agora menos que nunca”.

Esses alguns de nossos dizeres regionais. Certo que ‘de menor, de maior, menas’, pérolas do dia a dia, não devem fazer parte de uma linguagem enxuta, sob pena de estarmos ‘ferindo com bisturis afiados’ nosso idioma, que muito tem sofrido.

João Carlos de Oliveira

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