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A linguagem gestual, a de vendedores e afins: estão adequadas?, e como deveriam ser (?)

Bom-dia. Boa-tarde. Boa-noite. Como está você? Como estão as coisas? Qual é a situação de nosso País no momento?

O comprador que discute com outro pelo fato de ambos ‘haverem escolhido o mesmo pedaço de carne’ (sem nenhum deles ter falado com a atendente “Quero aquele”, apontando para o escolhido, em loja que vende carne-fresca, salgada e assada).

Estamos sabendo comunicar-nos?

Melhor cair fora!

A comunicação, quem nem sempre se dá através de palavras, é necessária, e as variantes muitas. Na hora certa, adequadamente, todas são bem-vindas.

O gesto é sublime, aliás, o bom gesto. Nada do chamado ‘gesto obsceno’. As mãos se servem, e servem, de variadas maneiras para que haja a comunicação eficiente.

Seria até uma arte o saber usar esses recursos da linguagem, que são bastante usados e têm sua valia.

Não fica bem, ao que parece, o ‘conversador’, que desperdiça vocábulos, pedir que lhe enviem um telefonema, e ainda faz o gesto com a mão côncava ao ouvido. Ou fala, porque está sendo possível falar, além de estar perto do ouvinte, ou faz o gesto, pelo motivo de a oportunidade de ser ‘ouvido’ e entendido ser evidente.

A linguagem começa quando o neném faz beicinho, quando a criança começa a falar e usa termos ‘caseiros’ para pedir comida, para fazer sua ‘moderna’ e ‘evoluída’ maneira de se fazer entender. A pirraça costuma ser gestual. É uma graça a criancinha que diz com carinho ‘papá’, ‘mamã’, ‘quero isso’, ‘não quero aquilo’. E lá se vão os diversos meios de comunicação. Até os pés que sapateiam dizem ‘sim’ ou ‘não’; as mãozinhas que clamam também.

Ao se tornar ‘grandinha’, essa cria, por vergonha ou se achar em outro patamar de comunicação, abandona esses meios, e muita beleza se perde. A comunicação se realiza por outros modos, em que se destaca a linguagem falada ou escrita.

E a gestual? É dela que vêm, a seguir, alguns detalhes, que seriam úteis a quem nos visita. Quem sabe!

Linguagem, como, supostamente, todos sabem, nas ‘palavras’ de meu professor dicionarístico, é a capacidade de os serem humanos exprimir seu pensamento e comunicá-lo através de sistema de sons vocais.

E se não estiverem falando?

O sistema de signos não-verbais usado para a comunicação evidencia uma fase desses dizeres.

Em outra visão, maneira de falar própria de um grupo, como a de vendedores. Notável observar que não se trata ‘dos vendedores’, mas de vendedores, de alguns. Não estaria, semanticamente, correta a fala de alguém que ‘as pessoas’ fazem isso, dizem aquilo, que se comportam dessa ou daquela maneira. Pessoas há que fazem o que fazem. A ausência do artigo definido (a, as, o, os), anteposto a um substantivo, limita a relação, a referência, a relatividade. Trata-se de um meio limitado, trata-se de dizer algo sem incluir todos (o povo, as pessoas, os homens, as mulheres…). O plural generalizado não serve.

Por isso, este artigo quer dizer ‘alguns vendedores’, certos camaradas que praticam o ato de vender (bananas, seguros, picolés, um meio-mundo de coisas) pelo grito. Por uma voz ‘alterada’. No lugar da gritaria, não seria melhor usar a voz dos animais? O símbolo? A mímica? O assobio?

Ah! se usassem a linguagem facial! O sorriso! E depois a fala, suave, de maneira educada, mesmo que fosse por meio de palavras rústicas! O homem do campo que se refere ao período sazonal das chuvas, e diz que o inverno vai ‘invernar’. Que bom! Entende-se o que quer dizer. Que a ‘librina’ vai pegar. Esse vocábulo é o substituto de ‘neblina’ para dizer um período de inverno com chuva fina e intermitente, fria, que deixa, até certo ponto, o camponês animado, alegre, e ele ‘pranta’ ‘de um tudo’: abóbora, feijão de arranca ou de corda, milho, batata, mandioca. A rocinha cresce e costuma ser farturosa.

Um feirante, um pouco afastado de seu ponto de venda, ou vendagem, está no maior papo com o companheiro de batalha. Alguém o avisa de que há um cliente (perto da mercadoria) interessado em seu produto.

Chega o bambam (bambã?), com a cara emburrada, e faz o gesto com a cabeça que ‘desce’ e ‘sobe’ em posição vertical. Nada mais. E fica a olhar para o cliente.

O que é isso, companheiro? Você é mudo, ‘meu filho’? Estava, ‘agurinha’ mesmo, falando alto com seu colega, e no momento de vender, de atender o cliente, só faz meneios com a cabeça (tonta?)?

O professor que adentra a sala sem cumprimentar a turma, com a face ‘aborrecida’ por estar ali, e ainda reclama da garotada! Os jovens têm culpa nesse ‘pecado’?

Se não fala, se não usa a linguagem gestual adequada, por que não a facial, com um sorriso? E depois, as palavras nascem abundantes, e certeiras como flechas, concluem um bom negócio.

O atendente de uma loja, que estaria posicionado em lugar ‘inadequado’, batendo papo com um colega (ou ‘zoiando’ o celular cheio de vídeos e mensagens ‘enxabidas’), aproxima-se do cliente e ‘pregunta’: “O que o senhor deseja?”

A propósito, ‘preguntar’, verbo pouco usado, a não ser por alguns considerados de pouca cultura, é derivado do Latim ‘preguntare’, que é correto. A questão é que ficou escolhida pelo Português culto sua variante ‘perguntar’, que pegou. Deu-se o inverso: preguntar se tornou obsoleto, e perguntar, não. Tornou-se moderno. Em outro caso, estupro se torna ‘estrupo’, mas não considerado bom ‘menino’.

São os metaplasmos, vistos por olhares ora bons, ora divergentes.

A linguagem ágrafa (para lembrar: a que não faz uso de palavras escritas) é tradicional, passada de pai para filho, e por isso, librina, melencia, gaiaba, jinela, abobra ou abroba (mas abobrinha, no lugar de aboborinha), tem seu momento. E como é parecida, mas de acordo com o momento, a linguagem gestual, com todos os meneios da cabeça que comunica, das mãos que falam, dos dedos que indicam, é rica, com grande variedade de opções.

Os livros falam de teorias, mas o que importa é a praticidade. Por isso, a linguagem facial, a mímica, a ‘corporal’, riquíssimas e boas, não só no teatro, na novela, mas no dia a dia de cada um, em casa, no trabalho. Para o vendedor, primeiro a linguagem falada (bom-dia, boa-tarde, boa-noite), mostrando o produto, ‘ouvindo’ o cliente com atenção, para depois fazer uso dos acenos, do rosto que ‘fala’ sem falar, da mão que escreve sem ‘escrever’, do sinal que ‘sinaliza’ sem ter usado um traço, um risco.

A senhora que vende bananas e está distante de seu produto. Procurada pela vizinha, de lá mesmo, faz o gesto com três dedos em riste (os três últimos da mão esquerda) para dizer ao cliente que a penca de bananas custa 3,00 (três Reais), sequer sem vir até o cliente.

Melhor ir embora.

Essa perde tudo. Melhor procurar o Sebrae para aprender a ser vendedora-autônoma ou empreendedora individual.

Por que não vir até o cliente? Por que não se aproximar com um sorriso (bom-dia!) e oferecer o produto: bonito, bom e barato.

A linguagem gestual desse padrão não serve, não é a correta, pelo menos para esse momento e para esse caso.

Preferível a linguagem de Libras de alguém que sabe usá-la, do deficiente de fala ou de audição.

Isso nos serve de alerta: o que fala, o que escreve, e o outro, não está fazendo uso da linguagem de forma correta, em tempos modernos e tão exigentes como os atuais.

O ‘dega-aqui’ agradece muito sua visita.

 

João Carlos de Oliveira

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