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O verbo transar mereceria destaque ou comentário? Sua semântica de hoje é a mesma de ontem ou tem sido alterada?

A linguagem, dizem os doutos da área (linguistas, etimologistas, gramáticos e outros), não é estática. Sofre constante evolução, chegando, às vezes, a mudanças bruscas ou inusitadas.

Dessa diáspora linguística, se assim se pode dizer, surgem os arcaísmos, palavras esquecidas, e os neologismos, palavras novas, e estas se destacam por razões diversas: a tecnologia as coloca em circulação, por estarem servindo de denominação a novos objetos, ou por que (r)evolucionistas as dignificam, para conhecimento e deleite do público.

A Literatura cria neologismos, como fica poético lembrar Manuel Bandeira ao inventar o verbo ‘teadorar‘, curioso e interessante. A mídia também apresenta suas versões quando, com base em idiomas outros, divulga tuitar, googlar (guglar?), shippar etc.

Até dizem que ‘dar zebra’, com várias conotações, é neologismo. Oquêi! Ops. Acabou de nascer um neologismo? Tomara, mesmo que não seja eu um Bandeira da vida! E se ‘dar zebrar’ é linguagem nova, também ‘amanhecer de boi’, ‘acordar de boi’ ou ‘estar de boi’ seria outra. Como isso? Linguagem regional, ‘ficar de boi’ é menstruar; para chamar a atenção ou dar destaque supimpa, ‘A senhora tinha acordado de boi, por isso estava muito nervosa’ é expressão arretada, neologismo sintático estrambótico.

O Regionalismo Linguístico merece nossa atenção.

Vi e não achei graça nenhuma neste exemplo: ‘Marquezine-se’. Para que a imitemos? O que é marquezinar-se? Isso é tietagem? Não seria tietismo? Cara, essa palavra constitui um neologismo! E é?

Então, vamos todos marquezinar-nos!? Neymarizemo-nos já?! Exceto a grafia curiosa, que requer cuidados, tais verbos não dizem muita coisa.

Lá vamos nós com outros casos.

‘Vamos todos de boa’, estar de bem com a vida.

‘O primeiro colocado seca o adversário’. A semântica ‘secar’ me assustou quando a vi pela primeira vez. Não entendia naquele momento o que seria um time jogar para ganhar e ‘secar’ o adversário, como hoje se usa com abundância no futebol.

Reveja os exemplos: ficar de boa, dar zebra, secar o adversário, por isso, ‘acordar de boi’ deve ser estudado com acuidade.

O internetês tem centenas de exemplos de neologismos, e ainda podemos destacar: deboísmo (ato de estar de bem com a vida), o que é excelente.

Por que levar ao pé da letra ‘Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje’. Melhor seria ‘Deixe para amanhã o que pode fazer hoje’ para estar sempre ocupado, para não viver a ociosidade, já que ‘mente vazia é oficina do diabo’, como dizem com a bocarra cheia de paródias. Há quem use plágios literários sem dizer a fonte. Escolas e mais escolas estampam frases em camisetas escolares com dizeres filosóficos e outros sem citar a autoria, ensinando indiretamente a meninada a fazer o mesmo no futuro. Até frase do saudoso e ilustre Paulo Freire tem sido citada (talvez, com alterações?), sem dizer quem a criou.

Ele registrou, escreveu, deixou para a posteridade, com notória sabedoria: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda“, pensamento que pode sofrer alguma alteração.

Ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades (…)”, trecho que daí para a frente pode viver mudanças, o que não condiz com a Ética profissional.

A frase sapiente de Pitágoras, há mais de dois mil e quinhentos anos, sábia como é, tem sido alterada em muitos momentos, como se aquele que a cita fosse o autor da pérola: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens“.

Citá-la, analisá-la é algo grandioso, mas sempre respeitando o autor, cujo nome deve estar claro.

Alguns é que aplaudem Governo que cria presídio. As ovações vão para quem paga bem ao professor, sem politicagem. E quanto ao próprio educandário, em qualquer setor ou nível, ‘Escola há que não tem biblioteca’, ‘Mestre há que não faz leitura semanal’, e outros, contribuem, até indiretamente, para que a Educação tenha mais falhas.

Dom Bosco, que se tornou Santo, deixou excelentes conteúdos filosóficos, como “Fale pouco de você e menos ainda dos outros“. Falar de você como algo que engrandece, não, e nunca falar mal de outrem, salvo a extrema necessidade, como no depoimento contra o criminoso, o estuprador, o corruptor, e falar muito das pessoas, sim: falar bem, elogiar, destacar o feito primoroso daquele que merece nossos aplausos, e apupar os políticos ruins, que são muitos, e o mau comportamento de muitas casas comerciais, obstruindo calçadas e varrendo o lixo para o meio-fio.

“Pare aí, professor!”

Vou parar.

Voltemos ao nosso Português do dia a dia, com feijãozinho gostoso, uma salada verde e arrozinho morno, além de torresmo, pimenta e cebola crua. Que vontade de comer um cuscuz lá do sertão jacobinense!

Então, transar (z) é um verbo versátil, porretinha, que sabe tudo e diz muita coisa. Basta ver no dicionário, sem preconceito, sem pejoração, sem a conotação de ‘ter relação sexual’.

Combinar, ajustar. Maquinar, tramar. Fazer uso ou comércio de. Cuidar de, dedicar-se a. ‘Ter uma transa com alguém’, o que pode ser ‘transa comercial’, nem sempre sexual. Transar, pop, não é o mesmo que transitar?

O uso malicioso tem afastado alguns do verbo ‘trepar’, que se torna desconhecido ou arcaico quanto ao sentido ‘de subir em árvore’.

Essa moça, quando menina, gostava de trepar (n)as goiabeiras.

Um dicionário diz, entre outros significados, que trepar é ‘subir a sítio íngreme e de difícil acesso; galgar’. Sítio, nesse caso, não é o ‘site’ nem a pequena chácara, mas ‘o local, chão, terreno descoberto’.

As plantas trepadeiras estariam tendo hoje outra denominação, pois ‘trepadeira’ é malícia de todo tamanho! O que é isso, companheiro?

Você gosta de transar no meio do povo?

Eu não, porque sofro de agorafobia!

“Ele transa com a gente toda hora na rua”, disse o cara, sem nenhuma maldade.

A maior transação comercial do século.

O transeunte precisa ser respeitado em todas as hipóteses (mesmo que esteja em ligeira irregularidade).

Há ‘Verdadeira obstrução à acessibilidade do transeunte em via pública’: veículos (carros, motos, bicicletas) estacionados em calçadas (em frente a lojas de som e outras). Infelizmente, em Teixeira de Freitas, ocorre algo assim, fato que não pode nem deve ser olvidado. Quem é responsável por esse setor não tem dado a devida atenção ao caso? Aquela entrada em calçadas, a pequena rampa para o acesso de cadeirantes, tem sido obstruída por veículos de luxo. Ninguém vê uma carroça ali estacionada, motivo de chacota e denúncia, mas carrões estão ali por um dia todo.

Esse desabafo poderia estar fora de hora ou em lugar errado, mas podemos dizer alguma coisa. Como esta ‘Princesa do Extremo-Sul trata seu próprio povo e os visitantes’? Esse tema dá seminário, que algum órgão sindical, comercial etc. poderia realizar. Esta Cidade poderia ser classificada como ‘turística’ com tal comportamento?

Para terminar, manchete registra: “ENEM: Meio milhão ainda não sabem o local de prova” (sic), grifo nosso. Milhão não é plural, portanto, ‘meio milhão ainda não sabe o local’, assim como se usa uma centena é, uma dezena foi usada, um mil é; um milhão de dólares equivale a quatro milhões de reais. Não é isso, cara?

Se houvesse ‘um milhão de candidatos’, poderia haver a opção de singular, melhor, ou plural: Um milhão de candidatos ainda não sabe; Um milhão de candidatos ainda não sabem.

Um bando de anuns voa alto. Um bando de anuns voam alto.

Meus cumprimentos. Obrigado.

João Carlos de Oliveira

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