0

Estes pares de palavras são variantes gráficas ou parônimos? Poderiam oferecer dúvida quanto ao uso?

As variantes gráficas seriam mais facilmente identificadas (anchova e enchova); os parônimos, menos conhecidos?, se tornariam empecilho gráfico-semântico para o usuário (atuar, autuar)?

Precisamos, sim, conhecê-los melhor para a certeza de como usá-los. Exceto o uso regional, salvo melhor juízo, devemos recorrer ao dicionário para ‘dirimir dúvidas’, como diria um compêndio de normas.

Fazendo Palavras Cruzadas, convivendo com o Regionalismo, ouvindo a fala de outrem, de costume e linguagem diferentes da nossa cultura, é que deparamos com novos exemplos.

Anchova ou enchova?, peixe marinho muito apreciado. Ambas as grafias são populares? O peixe é, do Mediterrâneo ao Brasil. A grafia nem tanto.

De qualquer maneira, para matar a curiosidade, deixe de lenga-lenga, professor, e apresente a relação de algumas dessas palavras, que se dividiriam nas duas ‘classes’ citadas: as variantes se diferem na grafia, mas com o mesmo significado; os parônimos se assemelham na grafia, mas com significado diferente. Por isso, todos os cuidados são indispensáveis. O básico é que a semântica esclareça as diferenças usuais. A partir disso, a criatividade e o conhecimento de cada usuário é que dão as rédeas (rédias?) para serem bem inseridos nos contextos.

Não poderia ser ‘contestos’, mas ‘Eu contesto que em qualquer contexto os vocábulos tenham a mesma face’.

Não é isso, Terta?, como bordeou Chico Anysio.

Tentemos mostrar um caso e outro. Só o grande linguista, de conhecimentos profundos, muito além do que escreve este blogueiro, para dissecar os empecilhos.

A diferença é que não se costuma achar relação desse tipo em qualquer esquina, razão por que citá-la se torna necessário. Alguém discorda?

Criemos um conceito: se variantes gráficas, vem a abreviatura VG; se parônimos, apenas P. Facilitaria identificar cada caso?

Ei-la:

absolver (libertar, livrar), absorver (sorver, consumir): P

absolvido, absorvido

acidental, ocidental (vocábulos paronímicos)

aeronauta, astronauta: VG

amimar, mimar: VG

anoso, idoso (sinonímicos, em que o primeiro seria menos usado que o segundo)

bicar, nicar: VG

blindar (proteger, isolar, resguardar), brindar (cumprimentar): P

blindado, brindado

breve (rápido, ligeiro), brevê (diploma que habilita alguém a pilotar aviões): P

cansaço, canseira: VG

carroçaria, carroceria: VG

cédula (dinheiro), sédula (ligeira): homônimos homófonos

censor (que censura), sensor (que sensibiliza): homônimos homófonos

Cupido (o deus), cúpido (apaixonado): P

deferente (pessoa que defere pedido), diferente (o que se difere de outrem ou de alguma coisa): P

dejejum, desjejum: VG

delatar, deletar, deleitar: P

descrição, discrição: P

descriminar, discriminar: P

destinto (descolorido), distinto (digno, diferente dos demais): P

efluente, afluente: P

elegível, ilegível: P

eludir (evitar, de forma astuciosa), iludir (enganar): P

emergir (aflorar, vir à tona), imergir (mergulhar): P, como emigrar e imigrar, emigrante e imigrante, coirmãos de migrar e migrante.

espadaúdo, espaduado. Ops! Variantes ou parônimos? A depender da semântica. Opção: P

estrato (divisão social), extrato (concentrado): homônimos homófonos

estoporo ou estopor (grafias embasadas em pronúncias populares), estupor: VG

expectador (que tem expectativa de), espectador (que presencia um fato, ouve ou vê um espetáculo, ou a ele assiste): homônimos homófonos

glosado (anotado, comentado), grosado (limado com grosa): P

hidrelétrica, hidroelétrica: VG

inapto (inabilitado, incapacitado), inepto (sem nenhuma aptidão; tolo, simplório): P

lhaneza, lhanura (planura): VG

lardear (entremear, ‘cortar em tiras’), lerdear (tornar-se lerdo): P

inovar, novar: VG

modorra, madorna: VG

nanar, ninar: VG

neblina (névoa densa e rasteira; no Nordeste, chuvisco), nebrina (chamada de ‘librina’ pelo regionalismo): VG

odor, olor: VG

passado, pretérito: VG

plano (de), de modo completo, totalmente); pleno (de), que independe de julgamento ou de declaração judicial; imediato: P

Paraolimpíadas, Paralimpíadas: VG. A segunda forma torna-se hoje ‘preferida’ pela mídia; a primeira, ao contrário, está sendo preterida, a contradizer a aprendida nos bancos escolares: pelo costume de usar e pela sua formação gramatical; para, o mesmo que paralelo, como em paramédico. Olimpíadas paralelas, ocorridas depois das principais, em que se incluem atletas com deficiências diversas.

radiativo, radioativo: VG

rédea (corda ou correia; poder, direção); rédia (forma intermediária de parasita, que dá origem a cercárias): P

saciedade (ato de saciar, saciamento), sociedade: P

terraplanagem, terraplenagem: VG

tráfego, tráfico: P

trombo (massa sanguínea coagulada no meio de um vaso, que dá origem à trombose), tombo, forma regressiva de tombar: P

Até expressões merecem destaque: Em torno de você, há muitas pessoas; no entorno de Brasília, há cidades satélites.

Eu entorno o caldo. O entorno está agitado. Homônimos homógrafos

Hígido (higiênico, asseado, limpo); rígido (duro, teso, rigoroso): P

Outros idiomas têm seus exemplos. O Inglês registra: Moon (Lua); noon (meio-dia).

Os significados é que nos chamam a atenção: a linguagem culta pode dizer que um minúsculo grão é um grânulo, daí termos granular, granulado e outros; assim, uma película, minúscula pele, é uma ‘pelezinha’. Existe essa? A película foi, então, o nome vip para se dizer ‘filme’. Vamos ao cinema, amor, assistir a uma película de Omar Sharif? Pelo uso, temos um termo arcaico. Por isso, existem as gotinhas e as gotículas, menos que estas sejam ‘nanogotas’.

abordar, parassíntese; abortar, derivado sufixal.

Um texto diz que o criador de abelhas, que é um apicultor (sem citar esse nome), ‘cultiva’ abelhas. Estranho, não? Ele cria abelhas. Poderia ser chamado de ‘cultivador’ de abelhas? Essa qualificação profissional não identifica essa função.

Usam a palavra ‘safari’ para se referir à caça ‘autorizada’ de animais, o que seria uma prática ‘desportiva’. Melhor seria chamar a esse ‘esporte’ de matança, um hobby de luxo estranho, assim como usar casaco de pele de animal selvagem. Não cabe mais, na modernidade, esse tipo de excentricidade. A palavra é ‘safári’, acentuada graficamente; paroxítona.

O redator, por grandioso engano, usa ‘pela a sua fala’. Na contração ‘pela’ já se tem ‘a’: por, preposição, mais artigo ‘a’, por isso, pela. Não se deve usar ‘pela a’ ou ‘pelo o’, e suas variantes. Pela sua fala; pela pessoa; pelo mesmo indivíduo.

Haviam muitas pessoas. Houveram outros erros. Flexão incorreta.

O verbo haver, sob a semântica de existir, é impessoal. Havia muitas pessoas. Houve muitos casos similares. Haveria melhores condições para se chegar ao topo da colina? Na dúvida extrema, melhor o uso da expressão popular teve. Ou tem. Teve muita gente, teve muitas pessoas. Tem muita correria no trânsito. No lugar de ‘Tiveram muitas pessoas’, que se diga ‘Estiveram presentes muitas pessoas‘.

Tem muita gente, forma popular. E se a ideia engloba o plural,  ‘Tem muitos indivíduos’, ainda assim não se deve usar o acento diacrítico (têm), indicativo de plural, se usado o verbo ter em sua normalidade: Ele tem amigos. Eles têm amigos.

Já que o assunto são variantes gráficas e parônimos, há expressões do dia a dia linguístico pouco usadas: mijar (popular); verter água (linguagem culta regional em desuso); esvair água (linguagem erudita, de pouco uso ou aceitação), esvaziar a bexiga (arretada, do vocabulário do baianês, carioquês etc.). No lugar de uma delas, urinar.

Volte amanhã. Abraços.

 

 

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *