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É difícil sabermos usar os pronomes oblíquos átonos nas frases? Colocá-los corretamente? Por quê?

A ênclise, a próclise e a mesóclise, ao que parecem, não têm relevância no uso da linguagem, nem culta e muito menos popular.

Essas as colocações pronominais tratadas na Gramática Normativa, que não são levadas em conta no uso da fala nem da escrita.

Até em editoriais, veem-se pronomes e mais pronomes oblíquos malcolocados.

No lugar de uma ênclise normal, aparece um pronome solto, ‘na banguela’, sem a devida colocação na frase: ‘Vai se embora.’

Esse exemplo, atracado à regra (Vai-se embora), pouco se vê.

Já que alguns descumprem a norma, para não se começar a frase com o pronome oblíquo (Me leva, Se liga, Me segue, Me faz um favor), que se usasse, e ficaria melhor no texto escrito culto, uma opção bem própria de quem sabe escrever: ‘E ele se vai embora.’

Em outro momento, a próclise, tão necessária à eufonia, não vem sendo usada. Vê-se: O ladrão que evadiu-se do local…

A regra diz que havendo atrativo (no caso, que), a redação seria: O ladrão que se evadiu do local. ‘Que’, pronome relativo (o qual, para esse caso) é atrativo forte. Nem por isso, dão o toque necessário ao que escrevem. Além deste, mais um exemplo: Que reconheceu-o na rua.

Certo que não havendo atrativo, normalmente, não haverá pronome proclítico. E quando não há, ainda assim é usada. Desse jeito, a coisa fica preta.

Quase sempre, a próclise não é vista numa redação comum.

A mesóclise, por outro lado, como se vê, tornou-se arcaica, por sua sonoridade e grafia ‘clássicas’, senão eruditas.

Far-se-á o combinado. Nomear-se-á novo secretário. Far-se-ia uma nova análise dos fatos.

Frases assim, com a colocação pronominal intercalada entre o radical do futuro do presente ou do futuro do pretérito, é fato novo para muitos, já que caiu em desuso, e não teria uma sonoridade agradável.

E o pior é esse uso desta forma: E ele tornaria se uma pessoa desumana. Não sendo possível a mesóclise, poder-se-ia usar uma ênclise diferente, solta, moderna: E ele se tornaria uma pessoa desumana.

Em muitos textos, vem a inusitada maneira de se colocar o pronome oblíquo, forma inexistente, não recomendada nos compêndios: “As autoridades estão o procurando”.

O que é isso? Muito estranha.

Quais as alternativas adequadas?

Já que existe a locução verbal, a colocação do oblíquo ‘o‘ poderia ser após o gerúndio, em ênclise: As autoridades estão procurando-o, que fica bem audível e não haveria prejuízo ou dúvida para o entendimento do conteúdo.

Não sendo essa a escolha, resta outra: de forma proclítica ao verbo auxiliar da locução: As autoridades o estão procurando.

Fora isso, só uma nova redação, usado o tempo simples: As autoridades o procuram. As autoridades procuram-no.

Difícil descobrir essa opção? Se se trata de um redator, se se trata de alguém que escreve artigos para jornais, um articulista, esse deve conhecer as regras e variar sua forma de escrever. Não há justificativa para dizer que não sabia nem conhecia.

A colocação ‘estão o procurando’ não atrai ou agrada tanto na linguagem escrita como na falada. Será que optariam por ‘estão-o procurando’ em todos os lugares? Fosse assim, ficaria menos estranha, e a Gramática não teria o que dizer. ?

Já viu textos com essas colocações pronominais?

Vamos a mais exemplos.

Vende se uma casa. Alugam se apartamentos. Se liga, cara. O meliante acusava a vítima de ter faltado-lhe com respeito.

Além de ruins, cheiram ao nada. Deixam uma dúvida do tamanho de um hipopótamo.

E estes?

Vende-se um terreno. Forram-se botões. Vão-se embora mais cedo. Ligue-se, cara. Disparos que lhes atingiram o peito e o abdômen.

Agora, assim, a regra foi cumprida.

A última frase no grupo das ruins poderia seguir duas opções: O meliante acusava a vítima de ter-lhe faltado com respeito. O meliante acusava a vítima de lhe ter faltado com respeito.

“Ele disse que o levaram para a UPA”, boa e rara.

Duvidosa: ‘Que estavam se casando’. O pronome está solto, mas como mudar? Que se estavam casando? Que estavam casando-se?

Nenhuma dessas serve. Melhor deixar como na primeira, similar a esta: Ele estava se saindo bem no debate.

Fechemos o conjunto de hoje com alguns detalhes linguísticos.

Há pouco: tempo passado. Há pouco, ele esteve aqui.

A pouco: tempo futuro. Daqui a pouco, vamos viajar.

‘Até que o intervém’ (para dizer que um cidadão foi interceptado).

Até que alguém intervém e o impede de continuar maltratando um cavalo que não queria adentrar a rampa de uma carrocinha.

Mas use em próclise (Ele se casa hoje, O legal é você se prevenir) ou em ênclise (Ele casa-se hoje, O legal é você prevenir-se). Ambas são corretas e têm boa aparência.

Palavras parecidas, mas de semântica bem diversa:

atônito: espantado, estupefato, assombrado de susto ou de admiração; extasiado, maravilhado. Do Latim attonitus. O empresário, de tanto trabalho, anda sempre atônito: não sabe o caminho a seguir.

acônito: planta venenosa de uso medicinal, das regiões montanhosas, que apresenta flores azuis. Para aliviar as dores, tomou um chá de acônito, que acabou dando certo. Do Grego akonitom.

enargia: descrição precisa de um discurso. O analista disse que o orador fez bela palestra, ‘leve, empática e enfática, capaz de convencer todos os ouvintes’. Foi uma enargia.

energia: atividade, maneira como se exerce uma força. Vigor, força: Ele tem muita energia. Força moral, firmeza, rigor: Nesse casos, aja com energia, senão o mal descamba. Capacidade de um corpo para realizar trabalho. O Sol produz muita energia, e a energia solar, como a eólica, produzida pelo vento, são biossustentáveis. Na região de Jacobina, em Ourolândia, mais especificamente, há um grande parque eólico.

Energia vem do Grego enérgeia. Enargia também vem do Grego, mas o étimo é enárgeia. Como se parecem em grafia e pronúncia.

estufar: aumentar de volume, crescer: O jogador, após fazer o gol, estufou o peito e disse em bom som: “Eu estou aqui!” Estufar é também colocar em estufa, secar, aquecer em estufa. Vem do Italiano stufare.

Entufar: aumentar o volume, intumescer, inchar; figuradamente, ficar aborrecido, demonstrar aborrecimento, enfunar, criar birra. O menino entufou no canto da parede, e ninguém conseguiu fazê-lo sorrir. Nasce da forma parassintética: em+tufo+ar=entufar. Fique aí com sua cara de entufado.

Por hoje, é só.

Obrigado pela visita.

 

João Carlos de Oliveira

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