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Magreza ou ‘magresa’? Marquesa ou ‘marqueza’? Por que -esa e -eza se foneticamente são ‘iguais’?

Seria fácil o uso destes sufixos: -ês e -esa, -ez e -eza, mas, na prática, pelo menos, alguns têm dúvida, uma vez que a pronúncia não se diferencia.

Em aula, já ouvia as queixas dos pimpolhos, que pensavam não haver necessidade de serem diferentes na escrita.

Recentemente, num local de trabalho, ao ser questionado, fiz o teste com quatro jovens; dois foram bem, e os outros, não.

Acresce-se o fato de que se deve levar em conta o termo primitivo e o derivado, o que não é feito de imediato, nem seria tão simples e costumeiro o usuário buscar o étimo de cada vocábulo.

Magreza, agora já com a grafia correta, é primitivo ou derivado? Se primitivo, qual a raiz? Se derivado, vem de que palavra?

Então, teríamos que dizer a quem escreveu ‘magresa’ algo parecido: “Calma, rapaz! Reveja seu conhecimento. Analise que você escreve acidez, que vem de ácido; beleza, que vem de belo, e estupidez, de estúpido.”

Mais um pouco: acidez, beleza e estupidez são substantivos abstratos, derivados de uma base adjetiva, como mostrado acima.

E agora?

Compare mais: freguês, que dá freguesia; marquês, que forma o feminino marquesa; cortês, tão usado e conhecido, que forma cortesia, e gentílicos, como holandês, português, francês, adjetivos ou substantivos, que indicam a origem, no caso, a nacionalidade. São amplamente usados, mesmo que sua classificação (adjetivos pátrios ou nomes gentílicos) não seja destaque.

E ainda: citemos termos do seu dia a dia, associados aos nossos costumes, voltados alguns ao ruralismo. O galo pedrês, o bode montês, o gato siamês, o sujeito burguês.

Quando se tem a especificação ou a origem, indicativos de animais e pessoas, usamos -ês, fato que não costuma ser desconhecido. Conhece o baianês?

O plural dessas palavras: galos pedreses, bodes monteses, gatos siameses, sujeitos burgueses. Por que essa didática? Para se confirmar as grafias dos sufixos: freguês, fregueses, freguesia.

Além disso, observamos o cuidado com a boa pronúncia, e ‘silabar’ uma palavra, o que alguns não praticam ou aceitam, faz parte da aprendizagem gráfica e do cuidado com o que se escreve. Cor-te-si-a.

Volte ao histórico de sua mente e escreva palavras com -ez, indicativas de qualidades, se assim fica melhor explicar. Se quiser, palavras que indicam nosso comportamento ou estado de espírito: a altivez, a aridez, a desfaçatez, a escassez, a frigidez, a gravidez, a liquidez, a nitidez, a robustez, a sensatez.

Há boa relação delas e, certamente, você será capaz de citar outras, pronunciando-as e escrevendo-as, para ter segurança. Com esse exercício, se você já errou, o erro será menor daqui para a frente, ou ele ‘estará morto, jogado na cumbuca do tempo’. Não seja acomodado. Insista, e o resultado será eficaz.

Que tal uma palavra poética? Languidez, o que tem a qualidade de lânguido. Seu amor é assim? Escreva no plural, mesmo que não seja comum usá-los dessa forma: languidezes, sensatezes, escassezes, gravidezes, porque pode usá-lo, e o treinamento lhe será útil.

E de -ez passe para -eza: afoiteza (afouteza), agudeza, aspereza, baixeza, boniteza, destreza, dureza, justeza, largueza, leveza, magreza (lembra-se dela?), nobreza, nudeza (ou nudez; é que poucos, talvez, conheçam essas variantes gráficas); simpleza (o mesmo que simplicidade).

Já que treinou um bocado, vamos a algumas grafias consagradas: a framboesa, a (à) milanesa, a presa, a tigresa, a tirolesa, a sobremesa, a marselhesa, a grã-duquesa, a empresa, a autodefesa, o azul-turquesa, tudo sem discutir origem, mas buscando o significado, que confirma o que você usa diariamente. Ou lê, ou vê.

Não deixe de comparar, de fazer um paralelo entre esses sufixos, tão importantes na formação de palavras chamadas derivadas sufixais, cujos exemplos foram dados. O que você pode fazer é aumentar a lista.

Nosso grandioso Celso Pedro Luft, linguista e etimólogo, gaúcho (que Deus o tenha em bom lugar!), que deixou viúva Lia Luft, cronista de qualidade, inclusive teve ou ainda tem artigos em revistas semanais de renome, escreveu a obra Novo Guia Ortográfico, pela Editora Globo. Tenho um exemplar da vigésima-segunda edição (prefiro a grafia do numeral por extenso), datada de 1991, o que não é tão ‘novo’, mas contém ensinamentos o bastante aprofundados.

Na sua página 95, o resumo é este: -ês, -esa/-ez, -eza, -isa/-iz(a).

“É muito comum confundir estes sufixos. Ora, com um pouco  de observação e reflexão, qualquer pessoa saberá distinguir entre as diversas terminações e usá-las corretamente” (sic). Confundir? Confundir-se. Estes? Esses.

-ÊS, -ESA: Corresponde este sufixo vernáculo ao sufixo latino -ense (m). Mas não é preciso conhecer latim. Basta saber que: o sufixo -ÊS se anexa a substantivos: mont(e)+ês, montês; pedr(a), pedrês; cort(e), cortês; burg(o), burguês; montanh(a), montanhês; Malt(a), maltês; Chin(a), chinês; Franç(a), francês.”

Em seguida, Luft explica que o derivado é sempre um adjetivo ou adjetivo substantivado: cabrito montês, cabra montesa; moço cortês, moça cortês; povo inglês, nação inglesa; um francês, uma francesa.

Observação à parte: respeitosamente, venho dizer que não flexionaria ‘montês’ no feminino, uma vez que se deve considerá-lo adjetivo uniforme quanto ao gênero: bode montês, cabra montês.

“Terminam com este sufixo os gentílicos”, acrescenta. E relaciona: calabrês, chinês, francês, inglês, japonês, marselhês, português.

Entre nós, eu e você  podemos confirmar: linguiça calabresa, marcha marselhesa, origem portuguesa, massa milanesa, seda javanesa.

Há os chamados títulos nobiliárquicos: baronesa (esposa e feminino de barão), duquesa (idem de duque), o marquês, a marquesa, princesa (feminino de príncipe), prioresa (esposa e feminino de prior, superior de certas casas religiosas).

E mais: papisa (nunca uma mulher ocupou a função de um papa!), pitonisa (feminino de píton), poetisa (mas muitos usam a poeta, o que denego), sacerdotisa. Etc.

“Os sufixos -EZ, -EZA se anexam a adjetivos”, ele diz.

Ácid(o)+ez: acidez; fluid(o), fluidez; baix(o), baixeza; larg(o), largueza; altiv(o), altivez; honrad(o), honradez; claro, clareza; triste, tristeza; pobre, pobreza; rico, riqueza.

Simplifiquei.

De diaconisa, profetisa etc., ele passa para juiz, juíza, e que existe o petiz, daí a petiza.

Petiz, menino, criança; a petiza, a menina.

Podemos acrescentar o cuidado com verbos terminados em -izar: poetizar, ele poetiza; profetizar, ele profetiza. Hodiernamente, conhecem-se e usam-se muitas dessas formas verbais: criminaliza, verbaliza, batiza, dramatiza, nacionaliza, agoniza, suaviza, simboliza, fertiliza, ameniza, viraliza.

Basta por agora.

Após a fixação, cuja aprendizagem se dá pela prática, o leitor pode aprofundar seus conhecimentos e ter o domínio dessas e de outras grafias.

Sucesso!

 

João Carlos de Oliveira

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