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Regionalismo e Brasileirismo são a mesma coisa? Mesclam-se no dia a dia? Como diferenciá-los e entendê-los!?

De início, para dar um exemplo, já que são milhares em todo o País, do AP ao RS, passando pela BA, PB (todos os Estados têm os seus costumeiros), podemos citar ‘cambuta’, cujas variantes gráfico-semânticas podem ser: acambetado, cambaio,  cambeta, cambota, capenga, coxo, zambeta etc.

Trata-se de Regionalismos ou Brasileirismos? Ou de ambos os casos, sem a necessidade de haver diferenciação, que seria difícil de ser analisada?

Comprou ‘pertences’ de galinha caipira.

19 de março é consagrado a São José; em todo o Nordeste é dedicado, pela espera das chuvas, ao ‘prantio’ de culturas sazonais: feijão de arranca, milho (do bom, com a semente guardada há muito tempo), e melancia, não o tipo japonês, mas a comprida, listrada, chamada por alguns de ‘melencia’ de arroba.

No caçuá, também chamado jacá, cesto, seirão, ou até bruaca, só cabem duas ou três, e o jumentinho tem que ser ligeiro e forte para ‘guentar’ e levar a carga ao ponto de comércio. Melhor que fossem transportadas da roça para o lugarejo num carro de boi, mas nem todos o têm, especialmente hoje, ou uma frota de mulas cargueiras, raras hoje em dia.

E numa camionete já meio ‘cansada’, para não dizer usada, não seria ideal? Mas dá despesa, alugada ou não. O melhor é ganhar um dinheirinho com a venda dessa fruta maravilhosa, que pode ser ingerida com farinha.

Sim, melancia com farinha na hora do almoço! Madurinha, tirada cedo, sabendo que é da própria lavra, para ficar mais gostosa. E o sertanejo se sente realizado.

Será que vendem ‘biju’ naquela birosca?

Então, depois dessa ‘pranta’, num roçado, em que as três espécies seriam cultivadas, ao lado do mandiocal, da batateira, ou outra cultura regional, vem a colheita farta (farturosa) no São João, não importa se um dia antes; o que não pode é que seja ‘despois’, que vale, mas não traz a mesma alegria, a mesma ‘sastifação’, porque deixaria o nordestino um pouco ‘acabrunhado’, seria decepcionante, embora nunca vá desagradar ao Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, Filho em especial de Maria e José. O Dia de São José (que seja repetido), 19 de Março, é, também, uma data religiosa.

O feijão secado no jirau, a melancia para vender, o milho para fazer mingau, ou curau; a canjica quentinha, com leite de vaca-craúna! Eita! vida maravilhosa!

Aliás, o feijão pode esperar um pouco: depois de bem seco, vai ser batido no terreiro, com um cambão especial: dois pedaços de madeira (que sejam de pau-pereira), um amarrado ao outro, com caroá ou corda de sisal. E que tal? Se na roça houver um batatal, muita batata assada, e um mandiocal, muito aipim cozido e carne do sertão bem gorda frita. Paleta, cupim, posta-gorda. Naquela época, comprava-se ‘uma manta’ de carne de sol, como a vendida por Seu Elias, em Cachoeira Grande. E que carne era? Certamente, carne ‘muciça’ (maciça!) da melhor qualidade: chã, de dentro ou de fora, patim (patinho), ou capa de costela de novilho ou novilha, bem nutridos, com dois ou três anos de idade. Seria um garrote, mas não um touro, ou uma vaca, mas não boa de leite como a craúna, de úbere negro, peitos bem roliços, ou tetas.

Cada um tem o gosto de usar o nome que mais convier. Um machado com cabo de carobeira, que é ‘pra toda vida’.

Esse menino, tão parrudo, come de um tudo um pouco, meu senhor, por isso, é assim! Benza, Deus!

Eis um pouco de Regionalismos.

Brasileirismo, a cumbuca para guardar coisas velhas, os trecos, ou bugigangas, miçangas, cacarecos.

Me dá um troço pra comer, que tô mortinho de fome!

O que não presta se guarda cem anos, até um dia que tiver uma serventia, dizia Seu Romualdo, amigo de meu pai. Até um prego velho, uma trempe, um carote, o cambão para amarrar no pescoço da vaca roceira ou do jeguinho teimoso que passava no ‘engana-bode’, ou passadiço.

Cuidado com o cega-burro, pro mode vasmecê num ficar cego. (Também chamado avelós.)

A ‘precata’ já tá gasta.

Um cambão de milho verde, carregado às costas, cada espiga amarrada com a própria palha, uma à outra, é chamado de atilho, mas o homem do interior nem sempre conhece essa palavra exótica: a dele é fieira, cambuca, ou um termo próprio de seu aprender com os mais velhos, os tios, os padrinhos, na vida, com a foice ao ombro, já que não teve escola.

Você sabia que ‘tô ino‘, de detrás pra frente, é ‘tô vortano‘?

O compadre gostava de falar palavras difíceis, que aprendia nos livros, com o outro que nada sabia. O ‘cumpadre’ que não sabia ler ‘arresolveu’ comprar também um dicionário para mostrar que não seria tão ‘palerma’ assim.

Escutava, escutava, e ia guardando na cachola o que o ‘cumpadinho’ falava, homem muito sabido, para, ‘adespois, percurar’ no pai de todos…

E ‘precurou’, e ‘precurava’, e nunca dava com ela na página que tinha ‘abrido’. E falou com o compadre sabido que seu dicionário não tinha as palavras que ele falava.

E que palavra foi, compadre?

Aquela que começava com o ‘si’ (sepulcro, por exemplo). Ou com o ‘nê’.

E onde o ‘sinhô tá, cumpadi?’

‘Tô ainda na letra bê, de pessoa que não sabe muita coisa.’

Assim, o senhor nunca vai achá. O senhor sabe o que é ordem ‘alfabeta’?

‘Compadi, precisamos ter um dedinho de prosa!’

Falo com uma pessoa de catiguria.

Um pouco de Regionalismos. O baianês, o mineirês, o carioquês, o gauchês. Quem sabe o ‘nordestês’!

Brasileirismo: todo fato linguístico peculiar ao Português do Brasil.

As chamadas expressões idiomáticas, que não devem ser interpretadas ao pé da letra. Está com pulgas atrás da orelha. Fica ‘queio’, meu amigo, que o bicho tá pegando.

Cambuca, cumbuca, caçuá, bruaca, caroá, garajau, manta de carne, piquete, fumo de rolo.

Cite seus exemplos, meu visitante!

Regionalismo: expressão própria de uma região, provincialismo.

Como diferenciar, pois, o que é expressão própria de uma região com todo fato linguístico próprio do Português do Brasil?

Coitado, foi morar nas prefundas do inferno!

O Regionalismo pode ser dividido em vários ‘pedacinhos’, as variantes de significados e expressões, o dialeto, as expressões dialetais, chegando ao momento linguístico. Todas as obras do Nordeste, que já foi chamado Norte, por isso, às vezes, o nordestino é nortista, trazem sotaques de seu próprio viver, a vida em si. Vidas Secas, do grandioso Graciliano Ramos, é um grande exemplo; dos Regionalismos chegamos aos Brasileirismos.

Jandira, Cambuquira, Grapiúna, Araci, Iara (nomes próprios). Cupim, jandaia, mandioca, jacarandá, um sujeito arado, coité, arapuca, araíba. Catolé do Rocha, na Bahia.

Regionalismo: tô na pindaíba, deu com o burro n’água, levou a pior, comeu o pão que o diabo amassou, caiu na gandaia, visitei uma mulher-dama, essa é mulher de vida livre, tomou um chá para dor de ‘estambo’, benzeu de mau olhado, levantou a espinhela para curar as mazelas.

Todos têm seus exemplos.

Até mais ver, amigo.

Bom proveito.

 

João Carlos de Oliveira

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