0

O sujeito é o ser essencial da oração? Seria importante analisar seu núcleo? Afinal, sintaticamente, o que é um sujeito?

Para que o assunto tenha fundamento, é preciso se buscar a diferença entre frase e oração.

Dizem gramaticistas e gramáticos, e toda a trupe que se arrisca a dizer algo nesse campo minado, que a oração é, ‘ao mesmo tempo em que o Sol se levanta e se põe’, uma frase, mas nem toda frase é oração.

Frase, enunciado dotado de significação. “Ei! cara!“. Oração, dizer envolvido em torno de um verbo (expresso ou elíptico) ou de uma locução verbal. Vou sair.

Porque nem toda frase é analisável sintaticamente. “E agora?” A oração contém o mínimo de dois termos: sujeito e predicado. O mundo acabou!

E vão estendendo-se as análises, e a parte que se descarta, sozinha, vai morar nos escombros da Ditadura Militar Brasileira. A dita dura!?

Segundo esses mesmos doutos, para ser oração, é preciso que o enunciado contenha o ser da ação, ativo ou passivo, o sujeito, e o que dizem fazer referência ao próprio ‘ente’ de que se fala algo, o predicado.

Qual é o essencial? O predicado, que não pode faltar, já que existe a oração sem sujeito.

O sujeito, pois, não é sempre o ser essencial da oração. Por que a Gramática não faz essa ressalva? É omissa?

A Didática tem esclarecido esses aspectos? Estudá-los faria sentido? A análise ajudaria a compreender, melhor, a linguagem?

Que estudioso tem demonstrado essa preocupação? E os mais jovens dão importância às ‘bobajadas’ gramaticais que só fazem complicar a linguagem e deixá-la mais distante do usuário que odeia ‘regras’ e ‘teorias’?

A Gramática Normativa não se contradiz quando afirma que sujeito e predicado são os termos essenciais da oração? Como ser essencial se nem sempre a oração tem sujeito? Como ser essencial se um tipo de sujeito é indeterminado?

Essencial é o que, de fato, não pode faltar. Necessário? Se nem sempre existe. Importante? Se às vezes está oculto. Indispensável? Se, muitas vezes, não o revelamos. Principal? Quando não está explícito, subtendido (por isso, implícito, o oculto).

Essencial, mas, semanticamente, não se trata de ‘o ar é essencial à vida’, ‘feijão e arroz são essenciais à alimentação do brasileiro’, ‘o trabalho é essencial à sobrevivência da família’ etc.

Para a oração ser analisável, pode-se ter apenas o predicado: Chove. Vive-se bem. Assaltaram o banco.

Esses três enunciados corroboram para que se diga, mesmo que o sábio não confirme essa hipótese, que o sujeito é essencial em algum momento, e o essencial pode ser faltoso. Se a GN fizesse essa ressalva, não haveria a chance de se contestar ‘são dois os termos essenciais da oração’.

A primeira é típica de oração sem sujeito, chamado inexistente. Se inexistente, como seria essencial? Os verbos impessoais desse naipe, indicando intempéries, são muito usados em orações de sujeito inexistente: ventar, chover, fazer calor, trovejar, gear.

São orações muito claras: Venta, geia, troveja. Para que sujeito? No frigir dos ovos, quem pratica a ação é a Natureza. E não importa se seria sujeito simples, ativo ou passivo, claro ou oculto, e um babado de afirmações ineficazes.

Poeticamente, a vida flui: A Natureza geia suave, O tempo chove abundante, O ar quente venta no Norte, O Verão faz calor sufocante.

Sujeitos explícitos das frases: A Natureza, O tempo, O ar quente, O Verão.

A GN aceita ‘A Natureza venta’? Disseca-a e a tem como natural? Se o homem não é o praticante do ato de ventar, chover, trovejar etc., logo, o ‘autor dessas façanhas’ é a Natureza, sujeito das frases, se quisermos fazer mais uma contestação.

Em Vive-se bem, cujo sujeito é indeterminado, não se tem a tal essência.

Não seria mais plausível a norma dizer que essa oração contém sujeito subentendido?, já que se pode determiná-lo com autenticidade? É tão claro quanto o sujeito oculto em Viajo agora para os EUA, vez que a desinência verbal -o faz o alarme! O eu parece supérfluo.

E daí? Não estaria no mesmo patamar Mora-se aqui? Sabemos quem viaja, quem ‘chove’ e quem mora. Nada é implícito, embora não explícito. Por isso, o sujeito não é ESSENCIAL.

Desse jeito!

Sob o olhar da mesma ótica, em Assaltaram o banco, sabemos que alguém o fez, ou que muitos o fizeram, mas não queremos revelar as evidências, por isso, o sujeito não é ESSENCIAL.

Tudo corre em segredo de Justiça, sob o mais claro sigilo!

A Gramática Normativa, nesse caso, enigmática, chateia o aprendiz, que a considera tão desmotivadora quanto a explicação de que, às 5 horas, o dia acaba de amanhecer. Tábua rasa, sem grande significado!

Todos os outros sujeitos restantes são: simples, oculto, composto, agente, determinado, elíptico, desinencial, implícito, ativo, passivo, sem a necessidade de se explicar cada um. Só iria aumentar a intriga.

Duvida?

Em Viajei, o sujeito é simples, claro, implícito, desinencial, ativo, uma vez que podemos enxergar nesse contexto a desinência verbal -ei, determinativa da primeira pessoa do singular (eu), mas poderia ser Viajaram, Viajamos ou Ele viajou, sabendo que alguém fez a viagem. Nada mais.

No fundo do Oceano, está a mesma clareza?

Em Vende-se esta casa e Vendo esta casa há uma isonômica mensagem de marketing. Para que diferenciar um enunciado do outro?

O essencial é que alguém vende uma casa.

A Gramática poderia ser chamada de burra? Talvez, o adjetivo seja pejorativo, depreciativo, mas a Gramática é incompleta, enfadonha, achatada, dificultosa, aborrecente, contraproducente, incongruente. E um xis a mais.

Belezinha não é, amiga de todos não é, claríssima não é. Esse viés teria o respaldo da análise sintática, da própria Gramática? Mas teria do contra o gramaticismo.

Se a ficção literária se torna realidade social, e nossa realidade social se torna a ficção explorada em textos novelísticos, que se tornam redundantes e chatos, por que engolir a teoria gramatical goela abaixo?

Finque sua resposta no topo do Everest, o Himalaia, que daqui a cem anos vai ser descoberta.

Preferível ‘Nóis vai‘ do apedeuta a um amontoado de regras impositoras, razão por que conceituado artigo jornalístico registra ‘A cidade está há mais de 100 km daqui’. Eita nós! Quando o idioma, na sua linguagem culta, vai ser referência nacional?

“Mais mior nóis de cá que fala como se aprendeu no dia a dia”.

Uma das gramáticas que dormita sobre esta escrivaninha, simplesinha, mas eficaz, diz “Sujeito é o ser da oração a quem o verbo se refere e sobre o qual se faz uma declaração” (sic).

Muito boa a definição, ficando claro que não se trata de ser ‘essencial’, mas do qual se diz alguma coisa, ao qual o predicado se refere.

A oração “Lá vai a procissão da igreja do Rosário“, Carlos Drummond de Andrade, contida nela, confirma o sujeito: a procissão da igreja do Rosário.

E este analista, intrigado, completa: núcleo do sujeito (procissão); adjuntos adnominais (a, da igreja, do Rosário). E o comum é que digam serem estes determinantes ‘adjuntos adnominais do sujeito’. Se já fazem parte do sujeito, são apenas ADJUNTOS ADNOMINAIS DO NÚCLEO DO SUJEITO, e não do sujeito em si.

Em O menino vai à escola, sujeito: o menino; núcleo, menino; o, adjunto adnominal do NÚCLEO do sujeito.

Como a Gramática diz, fica um vácuo, uma redundância.

Bons fluidos para que o ano vindouro seja arretado, e muitos obrigados a você que nos visita.

Embora não seja bolchevique, ‘até mais ver, camarada’.

João Carlos de Oliveira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *