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Certas palavras ou expressões não devem ser usadas, inclusive em ambiente coletivo, como pede uma visitante

Tarefa ingrata ou difícil, cara Beatriz Sanches, que sugeriu o artigo sobre a linguagem com o tema acima.

O que mata é a forma de serem usadas, e acabar com esse modus operandi é difícil (pensa-se). Seria possível?

A citação de termos ofensivos ou inadequados, que sobrevivem no dia a dia, apesar de nossa ‘evolução cultural-educacional’, encabeçaria uma lista enorme, porque os ouvimos em todos os cantões, e muitos estão na ponta da língua e na ‘net’ (sic), como outros dizem.

Se estão na Internet, não seria, por isso, que sejam usadas. O bom-senso é que norteia o uso.

Dizem que a prática é que leva alguém ao habitual, ao costume de enraizar uma atitude e vir a vivenciá-la no seu dia a dia.

‘Porra’, que tem a abreviatura ‘pô’, que muitos adoram, tem larga escala de uso, com muitos significados, do obsceno, ou imoral, ao ofensivo, chegando ao hilariante ou charadístico.

“Saia daqui, sua porra!”, tom que fere. “Porra, que legal”, o que agrada.

Não se precisa dizer em que dimensão a palavra porra, um pedaço de pau, deve ser usada. O ouvido responde.

Seus derivados, como porrada, e, depois, porrinha, porrete, porretinha, porretada, ganham espaço em nossa linguagem, maior na falada. A conotação varia.

O original peca; o subproduto, talvez, não.

Há comentários sobre ‘Porra na Bahia é (…)’, com longa demonstração de sua semântica, de um quilate ousado, com a visão do comentarista de que é isso e aquilo, o que se pode contestar: seu mundo é nacional. Essa palavrinha, de som fechado, que pode ser pejorativa, ganha novos rumos na gíria e na coloquialidade, uma imagem vetusta com nova roupagem.

Buscando a cor dos dizeres, ‘porra’ pode ser o ruim, e ‘porretinha’, o extrovertido, um sujeito arretado. Nos tempos idos de minha infância, na minha eterna Cachoeira Grande, distrito de Jacobina, Bahia (hoje), então, um povoado, apenas, de seus 500 habitantes, sem água, energia elétrica ou qualquer modernidade, morou um alfaiate, que teria vindo do Recôncavo Baiano, chamado Porretinha, e de fato o cidadão era pura simpatia. Naquela época, nenhum menino, como eu, pensaria que o termo seria da família de uma palavra desse naipe: ‘porra’, que pode ser até o esperma purulento, ou um cara imprestável, e ainda pode assombrar pela inusitada forma de ser interpretado. Pelo menos, naqueles anos, 1960, não.

Em parte, concordamos com Beatriz, a Sanches, questionadora do assunto, que teme, assusta, toma caminhos indevidos, e não deveria ser assim, mas a questão, também, é dizer que não se trata apenas de estar presente ‘no ambiente de trabalho’.

Está em muitos lugares, em todos, por assim se pensar. No barzinho, então, sai rapidinho e para na Europa, vai ao Everest, vem para os Andes, passa pelos Pirineus, e chega ao maior pico da bela África, o Kilimanjaro.

Qualquer palavra pode assustar, e trazer conotação enviesada, a depender do modo e da intenção como for empregada.

Quando alguém diz que o outro é um bundão, mesmo na brincadeira, pode pegar mal. O que a usa alega que não teve essa ou aquela intenção, mas quem é marcado por esse dizer pensaria diferente.

A bunda (do nenenzinho) está suja, expressão carinhosa da mamãe, pode virar imoralidade. O desejo de ferir vira o avesso para o direito, e o esquerdo para o torto, ou o sinuoso para o reto.

Reto é o certo ou o nome científico do ânus? Quantos ‘anos’ você tem? A resposta fez o maldoso rir, e asseverou ‘eu só tenho um’. Esse não tem a menor qualidade, nem para falar os termos cotidianos.

O que espanta é alguém dizer que fulano usou termo de baixo calão. O baixo faz ficar pior. O termo vulgar ou obsceno, usado para ofender, já é calão, e pronto. Um lado, que se vê até em artigo jurídico, é que outro pode dizer que o criminoso, malintencionado, com o dolo na língua ferina, praticou ‘constrangimento ilegal’ ao chamar uma senhora de mula, ou usar de forma indevida, mulata. Em que momento, nossas leis autorizam o constrangimento legal?

Constrangimento é constrangimento. Constranger alguém é feri-lo moral e eticamente.

O termo inadequado é o vulgar, pejorativo, ofensa de doer o calcanhar-de-aquiles, que não pode mais andar, e foi demitido do emprego pela grandeza do ofensor peçonhento.

Pela cabeça do maldoso, qualquer termo pode ofender, mas nega. Fica difícil o relacionamento humano, como vem sendo visto.

Pergunta-se a uma senhora feirante quanto custa a melancia. E ela dá preço alto. O possível comprador fica a pensar. E a vendedora ainda o questiona se vai levar o produto. Quando diz que não, por estar caro, a senhora tira ‘não se sabe de onde o chapéu de baeta’ e, com  altivez, grita para o possível cliente, que fica estupefato: “Vou lhe processar! O senhor me chamou de careira” (sic), disse ela.

Poderia processá-lo se a tivesse ofendido, mas não houve ofensa. Ela entendeu sim, e daí se questiona o que cada vocábulo pode significar e com que ‘vontade’ ou ‘volição’ de ofender é usado.

O termo pejorativo é péssimo. E muitos podem tornar-se assim.

Uma série de vocábulos tem estampa pejorativa, e esses, na fala de alguém que já teria o hábito de ser agressivo, momentos de pura desavença vêm à tona.

Por outro lado, a jovem, que não via a outra há muito tempo, recebeu, inesperadamente, a visita da amiga sumida. Regozijada, veio o sorriso antigo, e gritou: “Oh! puta velha, onde você andava?” (sic).

Não houve ofensa. Os abraços e os beijos, com a consolidação dos fatos, é que marcaram o encontro fraternal.

E assim nós vamos indo no dia a dia que pode ser turbulento. Pode-se chamar um amigo (em particular) de ‘veado’, e não haver nada. Mas se se disser em público, com voz altissonante, com tom raivoso, que o outro é moleque, já pode ser crime, e o moleque do bairro, o menino, ou o cara comunicativo foi esquecido.

O mundo agora é outro; a goiaba, que daria goiabada, se tornou fruto infausto e nojento.

Não é preciso citar nenhum termo ou expressão sugerida pela visitante, a quem são prestados agradecimentos pela sugestão e, certamente, pelas visitas que tem feito a este ‘sítio’. Já são conhecidos e abundantes, nesse aspecto, os termos diversos rolantes no topo das ideias de todos os que convivem no trabalho, em casa, aqui e ali.

Um, para contrariar o dito acima, pode ser revisto. Denegrir, de vasto uso na área do Direito, quando se trata de calúnia, difamação e injúria, entre outras demandas judiciais, é muito citada, tanto na defesa como na acusação, analisada pelo Emérito Julgador, para proclamar sua sentença, ou acórdão.

Foi usado em seu aspecto denotativo ou conotativo (figurado, simbólico)?

Denegrir vem a ser tornar-se preto, escurecer, como diz o léxico. O chão denegriu; o muro ficou denegrido.

Se o ofendido alegar para o ofensor: “Vossa Senhoria está denegrindo minha imagem perante minha família, meus conhecidos e toda a sociedade, em me chamar de vagabundo“, o questionador passaria de réu a autor, somente por ter usado o gerúndio do verbo denegrir?

Fica a pergunta, razão por que a vulgarização do uso desse verbo e outros, e mais palavras, é que estaria gerando ofensa. A consumação do ato é que cria o aspecto ofensivo.

Prevalece a visão do ofensor, e não a palavra em si.

Mulher, termo tão comum e bonito, pode tornar-se pejorativo de um momento para o outro.

Mulher-dama, antes com um significado, hoje pode ser prostituta? Mulherzinha, o diminutivo ensinado na Gramática Normativa, se torna palavra ofensiva?

Cara Beatriz Sanches, o espaço se alarga, e poderia eu deixar mais um comentário para outro dia?

Tio,  e outros vocábulos tornam-se pejorativos a depender da boca do fulano.

Voltarei.

João Carlos de Oliveira

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