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As regras do uso da vírgula incomodam? Ou não são entendidas nem estudadas? Nesse aspecto, erros há, e muitos. Por quê?

Respeita-se a individualidade, entretanto, é de se supor que o redator de um site tenha bom domínio linguístico para o exercício de sua função, haja vista que a escrita requer cuidados de vários naipes, além da coerência e de outros requisitos.

O uso da vírgula tem deixado alguns atônitos (?), por isso, muitos lapsos no decorrer do desenvolvimento textual. Muitas ‘varetas’ fora de lugar, e outras que nem deveriam estar ali. Surge a virgulose, doença oriunda do excesso delas em textos.

Isso faz mal, e por alguma razão deve ser revista, isto é, diminuam-se essas tantas para ficarem umas cinco ou seis.

Em algum momento, melhor não usá-la que virem a existir vírgulas malcolocadas, que truncam o enunciado e deixam o texto feioso ou dúbio.

Nesse caso, ‘menos’ é melhor que ‘mais’.

Um artigo trouxe cerca de uma dúzia de ‘pequenas varas’, e dez não podiam estar onde foram usadas. Em outro caso, comentado com ex-aluno, que sempre questiona sobre o assunto, porque escreve e tem algumas dificuldades (alegando que o uso é ‘difícil’), chegamos a brincar: das doze usadas, ‘treze’ estariam incorretas.

O bom ouvido, a sequência lógica, a construção frasal, observando-se as ordens direta e indireta, ajudariam no uso dessas ‘cobrinhas’ traiçoeiras. Há outros argumentos, mas esses seriam de bom alvitre.

E em se tratando da ordem direta, nem sempre a vírgula seria necessária em certa construção frasal.

O camponês constrói sua casa no alto da serra. Ordem direta.

No alto da serra, o camponês constrói sua casa. Ordem indireta.

“O jovem aprendiz alega que tem dificuldades quanto ao uso da vírgula; por isso, seu texto tem defeitos de pontuação”, mais uma mostra de frase direta. Mudando-a para um canto e outro (colocada em ordem indireta), o uso de outras vírgulas vai ser necessário, o que seria um bom começo para o neófito em redação descobrir o que deve fazer de suas dúvidas.

Frases curtas, diretas, sem muitos conectivos, e outros itens simples, ajudam muito. Quem quer galgar os ‘píncaros da glória’, com frases ‘empolgantes’, acaba confundindo-se.

Para começar a detalhar o tipo de erro, as duas frases abaixo servem de modelo para essa discussão, provavelmente, polêmica, gerando opiniões diversas, com o que ninguém é obrigado a concordar. O outro lado é que haja a discórdia, mas com respeito à opinião de outrem.

O homem, vai‘. Fica muito evidente que não se pode usar essa vírgula, por estar entre o sujeito e o verbo. A vírgula, que caracteriza pausa e serve para separar ou isolar palavras, grupos de palavras ou orações nos períodos (seu uso é elástico), tem a função de auxiliar no entendimento da mensagem. Construído um texto de 500 palavras em que nenhuma vírgula foi usada, sua clareza ficaria bastante prejudicada. Reescrito com as vírgulas corretas, excluídos outros enganos, o texto teria caricatura grandiosa, e seria bem aceito. Mas uma coisa não justifica a outra: nenhuma vírgula ou vírgulas em excesso fora de seu ‘habitat’.

A frase costumeira com erro de vírgula não é a citada, mas é essa a forma similar com que muitos começam seus textos quando citam órgãos, entidades públicas, prefeituras, entes públicos etc., com períodos, nas mais das vezes, extensos, como se soltos estivessem em algum lugar de plena liberdade (no deserto saariano ou nas águas pelágicas do Pacífico).

Um exemplo seria este: “A Prefeitura Municipal de Macambira nesta data, avisa ao povo em geral, que não vai haver expediente no Dia oito de Dezembro por conta da pandemia do Covid-19″ (nomes fictícios).

As duas vírgulas são indevidas e inoportunas. A primeira, depois do sujeito e antes do verbo: A Prefeitura Municipal de Macambira, avisa…

(A Prefeitura Municipal de Macambira avisa ao povo em geral que não vai haver expediente no dia 8 de dezembro de 2020 por conta da pandemia do Covid-19.)

Note que foi excluída a expressão ‘nesta data’. Se for recolocada, pode ser esta: A Prefeitura Municipal de Macambira, nesta data, avisa ao povo em geral que não vai haver expediente…

Todo termo intercalado deve estar entre duas vírgulas. (Avisa, nesta data, que…)

A ordem das palavras poderia variar em muitas colocações, mas o uso das vírgulas ficaria claro: as expressões ‘nesta data’ e ‘ao povo em geral’ deveriam ficar intercaladas, isto é, ENTRE VÍRGULAS.

Mais uma ordem possível: A Prefeitura Municipal de Macambira, nesta data, avisa, ao povo em geral, que não vai haver expediente no dia 8 de dezembro de 2020 por causa do Covid-19.

Nome de mês deve ser em letra minúscula, salvo os exemplos de datas cívicas, nomes próprios de obras, empresas etc. Sete de Setembro é Dia da Independência política do Brasil

Mora na rua Sete de Setembro. Sua obra maior é chamada Quinze de Março. Etc.

No lugar de ‘por conta de’, salvo melhor juízo, como já comentado neste site, seria melhor ‘por causa de’. Por causa das chuvas torrenciais, foi suspensa a sessão solene de final de ano da Academia Teixeirense de Letras, marcada para o dia 10 do corrente.

‘Ele disse que, chegará mais tarde’. Frase curta, e de cara uma vírgula ‘perdida’ no espaço sideral, não sabendo se vai em direção à Lua, a Marte ou a Netuno; seu rumo é tragicômico e pode pousar em qualquer lugar. Cairia no oceano ou seria destruída em órbita.

‘Ele disse que chegará mais tarde’, da mesma forma que ‘A Prefeitura Municipal de Macambira comunica (…) que não vai haver expediente no dia 8 de dezembro de 2020′.

Simples assim, apesar de uma frase longa, em que há sujeito simples (A Prefeitura Municipal de Macambira) e o predicado verbal (avisa), seguido de objeto direto oracional (que não vai haver expediente).

Avisa, no contexto, tem o valor de verbo transitivo direto e indireto, portanto, com dois objetos, um direto (avisa que…), em forma de oração subordinada substantiva objetiva direta, e um objeto indireto (ao povo em geral), este não tão necessário.

O comum é que esse verbo apareça como transitivo direto: Avisa o povo (objeto direto). Ou Avisa que não vai haver expediente (objeto direto oracional). Se ampliarmos a forma de redigir, poderá ficar: A Prefeitura Municipal de Macambira avisa ao povo desta cidade que não vai haver expediente (primeiro, objeto indireto: ao povo desta cidade; segundo, objeto direto: que não vai haver expediente (uma oração, ou objeto direto oracional).

Quanto ao fato de haver primeiro o objeto direto e segundo o indireto, ou vice-versa, isso não importa. Tudo fica ao gosto do redator-chefe.

O assunto é vasto e não muito pacífico. Tentemos resumi-lo, com algumas frases ‘tiradas’ de artigos cujo conteúdo foi transformado em fictício, mantida, porém. a posição da vírgula para a prova de que ficou fora de lugar.

Vêm, pois, duas versões: a com exemplo de vírgula(s) deslocada(s) e, a seguir, a com a colocação correta.

Dona Descoberta disse que a partir desta semana, a família aguarda providências. Uso incorreto de uma única vírgula.

Dona Descoberta disse que, a partir desta semana, a família aguarda providências. Uso correto de duas vírgulas em termo intercalado. Ou: Dona Descoberta disse que a família aguarda providências (do Governo a partir desta semana).

Dessa forma, evitamos assim, que decisões mais drásticas sejam necessárias. A segunda vírgula não cabe.

Dessa forma, evitamos, assim, que decisões mais drásticas sejam necessárias. A primeira vírgula, que já constava corretamente, e mais duas para separar assim (no meio da frase).

Fora isso, o uso enfático da vírgula é ótimo, coisa de poeta: Ela, não!, meu amigo!

Ou uma vírgula diferencial: se não houver, ‘aquilo não é’; se ficar, é porque é: Não vai chover hoje! Não, vai chover hoje!

Na frase a seguir, que consta de um site, não pode haver vírgula depois de ‘porto’ (Um navio holandês entrava no porto, um navio inglês).

Se colocada, como está, a expressão posterior ‘um navio inglês’ se torna um fantasma, um anacoluto estranho.

Entrava, como provou o professor que a comentou, e muito bem o fez, não se trata do passado imperfeito do verbo entrar, mas do presente do indicativo do verbo entravar: Um navio holandês entrava no porto um navio inglês (sem vírgula; forma correta). Ou com duas: Um navio holandês entrava, no porto, um navio inglês. (O primeiro navio estaria obstruindo o acesso do segundo.)

Frase antiga de almanaque, e que constou de livro didático de Língua Portuguesa: Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro.

E agora?

Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe, do fazendeiro era também o pai do bezerro. Correta. Tinha o filhote e mãe deste, a vaca; também era dele o pai do bezerro, o touro. Tinha três reses.

Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe; do fazendeiro era, também, o pai do bezerro. Opção correta: ponto-e-vírgula e duas vírgulas para separar também, termo intercalado.

João Carlos de Oliveira

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