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Oração introduzida com duas conjunções subordinativas adverbiais condicionais (ao mesmo tempo). Esse uso é correto? “Se caso o Governo atender”, teria usado um analista

A linguagem coloquial, como sabemos, espontânea que é, tem momentos curiosos e, de quando em vez, descumpre ‘a obrigação gramatical’, e não seria critério para ser expurgada, mas melhorada.

A linguagem culta, que é formal, também, pode apresentar aspectos com dúvidas, em que o usuário comete deslizes, implicando erros ou gafes. Se se trata de escrita, então, o mau uso pode fazer ‘a credibilidade’ vir abaixo.

Por que isso? Porque o falar na informalidade, e nada ficando gravado, pode ter um lapso, rapidamente, esquecido. No escrever, seguindo as formalidades gramaticais, para o discurso pomposo ou na defesa de uma tese, o erro gramatical extrapola, e a vizinhança grita; o ‘compadre’ pode vir a sofrer pesadas penas.

O cuidado com a linguagem formal dever estar sempre em primeiro plano. Se houver um ‘túnel’ entre o espontâneo e o formal, o ‘doutô’ deverá explicar-se, se não quiser que a vaca vá para o brejo.

Essa abertura comparativa de dois aspectos da linguagem, o popular e o culto, o hilariante é que escrevemos, falamos e registramos nossos pensamentos sob o risco de alguns lapsos aparecerem. (‘Se caso‘ foi ouvido no início da abertura de um noticiário televisivo.)

Ou surgem sem que percebamos que ‘algo’ seria um lapso. “Pensei que seria certo”, poderia alguém justificar-se. Certo que, gramaticalmente, não é correto usar ‘entre eu e você‘, na música, compositores há que consideram correto. Trata-se de uma licença poética, ou que alguns digam que, de tanto ser usada, a expressão passa a ser correta.

Nesse diapasão, abrimos o leque para comentar a dupla conjunção subordinativa adverbial condicional do título.

‘Se caso’ parece que virou moda. Seria pouco enfática, apenas, uma? Para arrebentar, o usuário tasca as duas (‘se caso‘). “O que eles têm com isso; a frase é minha, e pronto”, seria uma defesa.

Se não virou moda, é aceita, embora inadequada. Talvez, um pouco ‘feia’ para a linguagem culta. Esse uso pode ter a influência da expressão ‘no caso de’, muito usada, indicativa de uma hipótese.

E agora, como eliminar essa duplicidade?

Ou ‘se’, mais comum, ou ‘caso’, momento em que um substantivo, pela semântica da frase, se torna uma conjunção condicional.

Se, conjunção subordinativa adverbial condicional, indicativa de dúvida, exige o verbo no futuro do subjuntivo. Se eu for, se tu fores, se ele for, se nós formos, se vós fordes, se eles forem (tanto de ir como do verbo ser). Muitos ‘erram’ nesse momento e chegam a usar ‘Se você fazer a festa, me avise’. Se fizer…

Se o Governo atender… (Atender é verbo regular, por isso, não houve alteração do radical, mesmo no futuro do subjuntivo). Se o verbo for irregular, a alteração gráfica é visível: se for, se souber, se fizer, se disser, se vier (de vir), se vir (de ver), se puser, se couber etc.

Lembrar, neste momento, que a conjunção se e o advérbio quando, com valor de conjunção subordinativa adverbial temporal, andam juntos. Se indica dúvida: Se você for, se disser; quando denota tempo: quando você for, quando você disser, quando você vier (cuidado para não usar ‘quando você vim, quando ele vim, quando eu vim‘).

Usada a conjunção caso (sozinha; já definida), que daria uma frase mais charmosa, o verbo fica no presente do subjuntivo, sob o veio da hipótese ou possibilidade.

Caso você queira vir, avise-me. Caso você seja convocado, diga o que aconteceu, não minta. Caso o Governo atenda os mais carentes, o gás de cozinha terá preço popular. Caso o Governo venha a aceitar nosso pedido, o leite será gratuito (para termos meninos robustos).

Parece-nos que o uso conjunto de ‘se caso‘ seria para ficar mais ‘claro’ o que o falante ou escrevente desejaria dizer, não sabendo ele que passa a haver redundância.

Uma frase poética do escritor Augusto Meyer registrada numa Gramática: “Eu contarei, se as Musas me ajudarem, a verdadeira história do Elpenor”.

Transcrevamo-la usando a conjunção caso: “Eu contarei, caso as Musas me ajudem, a verdadeira história do Elpenor”.

A pequena mudança na frase do grande poeta tem, apenas, efeito comparativo, mostrando um uso e outro. Qual fica mais bonito? A resposta é que todo esse redigir é pessoal, estilístico, ficando livre a escolha.

Justo que o uso simultâneo de ambas as conjunções, na mesma frase, não é bom partido: Eu contarei, se caso as musas me ajudarem (me ajudem) a verdadeira história do Elpenor (o que para alguns seria muito charmoso e interessante).

Peguemos uma frase do dia a dia e a usemos com uma e outra conjunção, e com as duas simultaneamente. Vejamos as diferenças.

Se alguém me chamar, diga que saí. Caso alguém me chame, diga que saí. Se caso alguém me chamar, diga que saí. (Escolha uma das duas primeiras, e descarte a última, apesar de não ter problema aparente).

Se for usado verbo irregular.

Se você fizer parte do grupo, não seja autoritário. Caso você faça parte do grupo, não seja autoritário. (Opte por uma delas.)

Ficou claro esse hábito redacional, que deve ser evitado?

Fechando o dito de hoje, vemos que alguns têm dúvida quanto à flexão de adjetivos compostos no plural. A regra é clara: só o último elemento flexiona. Os norte-americanos. Os bielo-russos. Os sul-americanos.

Não se pode confundir o adjetivo composto com um substantivo composto, cuja flexão segue outros critérios: Os tupis-guaranis foram dizimados. Os Peles-Vermelhas foram verdadeiros heróis ao defenderem suas terras.

Este blogueiro, advogado-poeta, fica honrado com a leitura de visitantes, e muitos com elevado saber linguístico, o que é maravilhoso.

O aqui cognominado S.C., pela sigla de seu nome, fez profundo elogio e mostrou seu conhecimento sobre ‘de eu, de mim, para eu, para mim’ etc.

Acrescento mais umas frases: Está na hora de eu ir embora (há verbo, por isso, de eu; na hora de eu trabalhar). Este é o momento de ele falar ao público. Falou de mim, pediu para eu ler o seu livro de poesias. Ofereceu um banquete para mim. (Ofereceu-me um banquete.) Entre eu dormir e ficar acordado, prefiro o segundo quando tenho o que fazer na madrugada. Entre mim e você, nada existe a mais que um simples conhecimento. Meu amor, ‘entre eu e você‘, há uma enorme distância, mas ainda assim nos ‘amamos’ (como diria a música, usando de liberdade de expressão ou licença poética).

Finquemos um bastão no canto marcando o fim de hoje, e voltaremos depois. Não deixe de ler o livro de poesias O DIA QUE NUNCA ACABA (Editora Scortecci).

Obrigado.

João Carlos de Oliveira

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